Autoridade institucional
vs.
Autoridade do mestre espiritual
“Tente aprender a verdade aproximando-se de um mestre espiritual. Faça-lhe perguntas com submissão e preste-lhe serviço. As almas autorrealizadas podem lhe transmitir conhecimento porque elas são videntes da verdade.”
Hoje
quero falar sobre um tema muito delicado: Autoridade institucional vs.
Autoridade do mestre espiritual. Hoje li que em uma institucionalização
Vaishnava as autoridades institucionais inventaram uma nova regra cuja eles
dizem que o mestre espiritual deve sempre estar baixo as regras administrativas
e governamentais da instituição. Claro, nós reconhecemos que os mestres
espirituais não são independentes, eles dependem das bênçãos de seus próprios
mestres espirituais, no critério dos sadhus e nas escrituras para assim derivar
a verdadeira autoridade de uma conclusão.
É claro, existe a consciência
interior que é de extrema importância em qualquer circunstância da vida.
Chitete, ou consciência interior, tampouco é independente – tem que se
associar, se comparar e se verificar com o mestre espiritual, os sadhus e as
Sagradas Escrituras. Por que é importante este tema? Muito simples: porque as
pessoas podem errar. Principalmente se estiverem no lugar do professor – seja
esse um siksa ou um diksa Guru, eles também podem errar. Esta é a razão pela
qual as escrituras deram a indicação de um assistente verificador, quando
existe alguma pergunta ou dúvida para se salvar do que poderíamos chamar de uma
especulação arbitrária de um indivíduo.
Agora, podemos pensar: “Todas as
glórias à democracia!”, porque neste caso temos um grupo de pessoas que vota em
um tópico e desta forma se supõe que terão solução correta. Se a democracia for
uma democracia entre verdadeiros e sinceros sadhus, então de fato terá
validade. A sadhu democracia poderia funcionar até certo ponto, mas se não,
então temos que ver que inclusive grupos de pessoas com poderes de voto, todavia
podem se equivocar. Em outras palavras, eles não são uma garantia de que você
não vá errar.
Srila Prabhupada, nosso mais querido
mestre espiritual, é tão extraordinário que ele continuou recebendo títulos
inclusive depois de sua partida, tais como Senapati (escolhido e empoderado
agente do Senhor Caitanya) e Shakti Avesa Avatar (encarnação empoderada pela
potência de espalhar amor do Senhor Nityananda). Ele foi reconhecido pela
extraordinária contribuição que deu ao mundo.
Sem dúvidas, se alguém quer escolher
a Srila Prabhupada e encontrar alguma falha nele, de fato é provável que se
pode fazê-lo. Se ele decidiu entregar sannyas a alguma pessoa que logo falhou
em sua sannyas, poderia dizer: “Se ele fosse um trikalagya, alguém que tem
conhecimento do passado, presente e futuro, não poderia prever o que sucederia?
E sobre a fazenda de proteção às vacas cuja dada certas circunstâncias acabou
insustentável? E sobre o que acontecia nos
Gurukulas onde alguns indivíduos degradados abusaram das crianças? Por acaso
ele não viu isso, não sabia disso?”. Minha resposta pessoal a isso é que Srila
Prabhupada trabalhou em seu ideal com quem fosse que Krishna enviasse e ele
dava a oportunidade à pessoa – dizendo o que fazer e dando o exemplo correto de
como fazer. Então, podemos dizer que Srila Prabhupada nunca falhou com a gente,
ele nos deu o amor de seu Guru, mas porque ele estava pregando no mundo
Ocidental, havia um grande risco ao fazê-lo.
Inclusive se estivermos nos
negócios, na política ou em uma comunidade espiritual, sempre haverá problemas
de confiança; a alguém que tenha que entregar as chaves, a alguém que tenha que
entregar a manipulação do dinheiro. Na vida humana sempre há posições de
confiança que poderiam ser poderosamente utilizadas para coisas realmente
belas, mas que também poderiam ser mal utilizadas. Então, considerando esta
condição fundamental, estamos muito preocupados em encontrar alguns meios de
segurança para contrariar situações abusivas. Afortunadamente, temos um meio de
segurança em nosso sistema e este é Paramesvara, o Supremo Controlador Senhor
Krishna, Ele sabe de tudo e Ele é o juiz benfeitor de todos, em outras
palavras, se você errar, Ele o julgará, mas para o seu benefício. Ele fará
alguns arranjos que te favoreçam de alguma forma e te salvará de suas próprias
falhas. Mas vemos que em algumas ocasiões nas que Krishna perde Sua paciência –
sim, nos atrevemos a dizer isso, meu querido Senhor Govinda – em um sentido,
Ele diz: “Esta ou aquela oportunidade terrestre para esta pessoa chegou ao fim
nesta rodada. Esta pessoa tem que ir e voltar de novo.” Depende dEle, Ele é o
Supremo Controlador – e nós estamos em mãos seguras com o Senhor Krishna. Ele
enviou nosso mestre espiritual Srila Prabhupada para que tenhamos um fundamento
sólido de como praticar Consciência de Krishna, inclusive nas condições
degradadas do Ocidente, sempre e quando possamos seguir suas instruções como
meios de segurança:
Número 1: Cantar Hare Krishna
Número 2: Seguir os 4 princípios
regulativos
Número 3: Continuar a ler as
Escrituras
Número 4: Fazer serviço
Sem serviço, mesmo o canto se torna
um tipo de “estou pedindo serviços, estou pedindo serviços”, mas quando o
serviço vem, já não estou disponível. Então, a pergunta de ter um parecer
institucional por cima do Guru tem que ser analisado muito cuidadosamente e
também muito generosamente. Depois que Srila Prabhupada deixou este mundo e
alguns de seus líderes deixaram de trabalhar corretamente (para dizer com
palavras suaves), alguns devotos sugeriram que era melhor eliminar a função do
mestre espiritual e ter a Srila Prabhupada como o grande mestre espiritual de
todos os presentes e futuros devotos. Esta proposta, que cada iniciação depois
de Prabhupada fosse uma iniciação ritvik, onde o real Guru Srila Prabhupada,
seria praticamente igualar a Consciência de Krishna com o Cristianismo. Existe
o filho de Deus, ele nos salvou – claro que não aceitamos que ele morreu por
todos nossos pecados, para que nós possamos seguir pecando. Esta é só outra
degradação da verdadeira espiritualidade.
De acordo com o Cristianismo, você
está conectado a Jesus ao ter contato com alguma de suas instituições com
diferentes praticantes dos quais te agradarão alguns e será inspirado por
outros, mas nunca passam a ter real importância, porque a verdadeira posição de
importância é dada a Jesus. Então, a sugestão de por a instituição acima do
Guru é uma proposta muito estranha em um sentido. Se você analisar, não é
ritvik de Srila Prabhupada, seria uma iniciação representacional em nome de uma
instituição. Onde está Prabhupada aí? A instituição demonstrara julgamentos com
falhas em muitas ocasiões passadas, por exemplo, em relação aos vaishnavas que
pertencem a outras instituições vaishnavas e que são iniciados por mestres
espirituais da mesma linhagem, mas não desde o mesmo quadro institucional.
Há muitos outros exemplos de grandes falhas
institucionais que causam um caos considerável tanto a nível individual da vida
como no pensamento estrutural das pessoas que são educadas baixo tal sistema.
Desculpem-me pela comparação, mas quando os socialistas criaram um sistema de
como educar as crianças, deram um tipo de pacote para lidar com a vida de
acordo a parâmetros socialistas. Uma existência capitalista dá outro tipo de
esquema e uma ditadura militar totalitária tem outro quadro, e se existir um
rei, ele pode ser como um ditador em uma maneira, mas também pode ser muito
querido e carinhoso com todos os seus súditos – todas essas circunstâncias
colocam outro quadro psicológico de guia aos comportamentos nesse sistema.
Então, quando as instituições formam sentenças que se
convertem em sistemas, regras ou regulações, isso cria um impacto nas pessoas
que têm que viver baixo a influência de tais sentenças. É diferente quando você
tem um Guru, seja um siksa ou diksa Guru. Marquem minhas palavras, menciono que
os dois têm o mesmo valor até certo grau – e Prabhupada escreveu (ou citou a
Srila Jiva Goswami) que é uma ofensa ver diferença entre siksa e diksa Guru,
então este é um ponto muito importante.
Em minha própria família eu inicio devoto, este é o meu
serviço nesta família e logo me movo em meu caminho como um mendigo de amor ao
próximo destino. As pessoas que eu iniciei ficam atrás com as diversas
qualidades de siksa Gurus que são, com esperança, da mais alta qualidade, mas
às vezes não são. Eles cuidam dos novos devotos por um período de 364 dias até
que eu volte por um dia.
Supostamente, as pessoas podem ter contato comigo de
muitas formas mediante meus ensinamentos e minhas sessões de perguntas e
respostas, as quais busco constantemente oferecer aos devotos, mas de toda
forma, muitos devotos em nossa missão me veem por um dia ao ano, e muitos deles
me veem até menos, porque nem sempre posso visitar cada lugar por um dia cada
ano. Então, quem está cuidando do devoto? Quem está entregando o Guru Tattva?
Estes são os siksa Gurus, estes são os devotos maravilhosamente rendidos e bons
exemplos, que tomaram a Krishna no coração como eu tomei a Prabhupada no
coração – esperançosamente. Eu queria que fosse assim, porque tomando o Guru no
coração, você se converte em um meio transparente do que ele é para você por
meio da autoridade e supervisão de Sri Paramatma, o Senhor do coração.
Você tem que entender uma coisa: todas as glórias a Srila
Prabhupada, mas ele não é Paramatma, sendo ele o mais belo de todos os mestres
espirituais da história, nunca nos deu a impressão de que era Paramatma – e de
fato não é. Então, esta é uma coisa muito interessante a levar em consideração:
que a guia final, garantia de qualidade e controle de qualidade de Guru Tattva
se baseia em Sri Paramatma, Chaitya Guru e todos os outros que tenham uma
oportunidade de participar por graça divina na entrega de bens divinos do Guru
Tattva na medida em que seja capaz de apreciar, preservar e assim entregar a
você para que seja capaz de receber. Então, há alguns passos dentro do sistema
que são falhos, mas pelo controle de qualidade e as garantias de qualidade de
Sri Paramatma para com Seu devoto, não há nada que temer.
Só temos que saber como lidar com as diversas circunstâncias
enquanto procedemos, e quando meu Gurudeva disse que todos os seus discípulos
se tornassem mestres espirituais, ele não estava brincando. Então, eu só posso
confirmar, porque, para mim, todos os que vieram até mim, na verdade são
discípulos de Srila Prabhupada, que eles estejam sob minha guia e possam talvez
serem inspirados em seu serviço é uma misericórdia especial sobre mim para que
eu possa de alguma forma ser utilizado para um propósito divino. Não sinto que
seja mais que isso, mas tampouco sinto que seja menos. Sinto que é uma
distante, elevada e incrível misericórdia, se é que poderíamos ser um
instrumento de seu amor – isso é o para rezarmos sempre: “Óh, meu Senhor, me
deixe ser um instrumento de Seu amor!”
Disso se trata tudo, de todas as formas, enquanto eu
possa ser, você possa e deverá ser também se estiver pronto para seguir os
requerimentos. É como quando você dá uma aula em frente a um público, não é
você quem está falando – ao menos não se supõe que seja – se supõe que você
seja o meio transparente para que a mensagem de seu Guru seja entregue. É por
isso que sempre falo: “Meus queridos amigos, por favor, busquem ser um falante
sobre Krishna, porque Krishna te deu a boca para que você possa dar lindos
discursos de Harikatha ou mesmo sobre Prabhupada lila, por exemplo. Krishna
Lila Amrta, Prabhupada Lila Amrta... sim, o escutar das glórias dos devotos é
muito querido para o Senhor. O Srimad Bhagavatam está cheio de histórias sobre
as glórias dos devotos, e não pense que contar a história de Prabhupada seja
menos estático que escutar a história de Dhruva Maharaj. Estas são
extraordinárias características com as quais entramos em contato por uma grande
misericórdia, e qualquer um que receba esta misericórdia, será em si uma bonita
história que merecerá outra conversação.
Claro que, se eu tivesse sido um muçulmano antes de
conhecer aos devotos, isto não me faria imediatamente Haridas Thakur. Existem
muitas mais certezas no departamento do planejamento divino, assim como o plano
de Haridas Thakur era Brahma, quem pela misericórdia do Senhor Gouranga teve a
oportunidade de aparecer em seu lila como o Nam Acarya, mas mesmo quando os
muçulmanos se convertem ao amor do Vaishnavismo, nós nos alegramos, é uma coisa
extraordinariamente bela que acontece. Todo mundo é uma família, todos
pertencemos um ao outro. Todos os pensamentos sectários, “eu sou melhor que
você”, não são apropriados ou aplicáveis em como tratar os outros neste mundo –
algo que é esquecido com frequência no fazer das leis institucionais e que não
é tão espiritual, como quando uma instituição tira uma lei que diz: “Você não
tem permissão de tomar instrução siksa de alguém que esteja fora da nossa
instituição”, soa muito semelhante a alguns sistemas políticos que nem sequer
se permitem saber o que a oposição propõe, de outra forma você será considerado
um traidor e será tratado como um. Em tempos de conflito, os traidores são baleados,
e em uma instituição espiritual, aqueles considerados traidores são ignorados,
rejeitados, caluniados e denunciados.
Então, filósofos e intelectuais espirituais têm que lidar
com tudo, incluindo pontos de vista opostos. Se você for um brahmin ou um
sannyasi e não pode lidar amorosamente com pontos de vista opostos, então você
se tornará um tipo de filósofo como uma rã no poço. Você pensa: “O que está acontecendo
no meu poço, é a minha sabedoria”, mas você sabe o que Srila Prabhupada disse
sobre filósofos como rãs no poço. Se existirem pontos de vista opostos, temos
que pensar sobre eles e de alguma forma nega-los de acordo a Guru, Sastra ou
Sadhu, ou aceitar como uma crítica construtiva do que estivermos fazendo.
Se a verdade se aproximar na forma de uma oposição aos
meus erros, então eu devo rejeitar a verdade porque não vem de um enquadramento
institucional? Esta é uma atitude muito perigosa, significa que você cria uma
prisão filosófica, onde você está limitado à concepção dos frequentemente
parcializados por interesses juristas, quem por sua vez contamina toda a
possibilidade de ter uma visão transcendental – e é exatamente aqui onde o
mestre espiritual faz sua entrada. O mestre espiritual é um pensador livre, ele
é um indivíduo com uma realização pessoal e com critério, quem pode avaliar de
forma confiável de acordo ao Guru, Sastra e Sadhu, qualquer coisa que veja,
além dele poder adaptar tempo, lugar e circunstância a qualquer situação que se
apresente, que pode ser inclusive nova em comparação ao que o Guru explicou.
Um dos melhores exemplos sobre isto se chama Facebook. O Facebook
definitivamente não existia no tempo de Srila Prabhupada e Srila Sridhar
Maharaj. A última vez que vi minha mãe, quem costumava ser tão analfabeta com computadores,
ela sabia mais de Facebook que eu. Eu fiquei muito surpreso, porque o Facebook
é uma grande Maya, uma grande ilusão. Pode realmente servir para obter Krishna,
para perder Krishna, para perder seu tempo de forma extrema, mas ao mesmo
tempo, o Facebook pode ser considerado uma ferramenta fantástica para divulgar
as atividades do templo e para uma comunicação ativa com outras pessoas do
mundo. Então, temos a Zuckerberg, o criador do Facebook. Ele é um ser humano
que se converteu no instrumento para entregar tecnologia que põe uma pessoa em
contato com outra como nunca antes, e se tornou uma doença – já existem
clínicas de Facebook. Existem pessoas que perdem o contato com o mundo externo
porque se hipnotizaram com a tecnologia e o negócio de “Curtir”.
A substância real de propagar a consciência de Krishna
por meio do Facebook se perde porque tal pessoa nem sequer está usando para
isso, mas se um templo ou projeto utiizar o Facebook para divulgar a mil, duas
mil ou três mil pessoas sua próxima atividade, então se torna em uma útil e
apreciada ferramenta. É uma espada de dois gumes que pode cortar o incorreto,
mas também o correto. Como Srila Prabhupada não disse nada sobre Facebook,
significa que o novo mestre espiritual não deve dizer nada sobre isso também
simplesmente porque ele só deve dizer o que Srila Prabhupada já disse?
Este tipo de conceito mata todo o assunto, o mestre
espiritual precisa ter o critério de como utilizar uma nova tecnologia. Estou
dando um exemplo, mas há outros vários exemplos. Tempo, lugar e circunstância
podem ser favoráveis para o desenvolvimento da consciência de Krishna. A
realização pessoal é o último ponto de verificação e este ponto não pode ser
verificado com segurança, quando é óbvio que há um desvio dos princípios do
Bhakti. Vou dar um exemplo muito extremo, mas estamos falando da verdade nua e
crua aqui:
Havia um indivíduo que se considerava um mestre
espiritual, então, foi da Índia a um país latino e começou a dar iniciações.
Era um indivíduo bem exibido e muitas das mulheres que ele iniciou se
apaixonaram por ele e ele também se apaixonou, mas não só com uma devota senão
que com várias, ele adquiriu luxúria por várias delas, ele esteve com várias
delas. Isso seria vergonhoso para um mestre espiritual, mas é claro que ele não
era realmente um mestre espiritual, alguém que cai em uma vida de sexo ilícito
não é um mestre espiritual. As mulheres eventualmente se deram conta que ele
não havia caído só com uma delas senão que com várias. Elas se sentiram
enganadas e, claro, foram enganadas. Ele deve ter dito a cada uma delas “Você é
a estrela da minha vida”, e todas desejam ser a única estrela no céu. Quando se
deram conta que haviam sido muitas, as mulheres se juntaram e o denunciaram no
escritório de migração, então ele foi tirado do país. Seus próprios discípulos
o tiraram do país, você pode chamar de democracia ou voz popular, ou o que
seja, mas a verdade é que seus próprios discípulos o tiraram. As mulheres
tomaram refúgio em um devoto antigo e sincero e continuaram sua vida
espiritual.
Então, sim, a falha pode estar no mestre espiritual, e a
falha pode estar em um grupo institucional inteiro de GBCs que se juntam para
liquidar um devoto para ou contra disso ou daquilo. Eu mesmo passei por um
período de minha vida na qual estava sob a opinião de votação de tal painel de
conselheiros. Nesse tempo existia uma regra que ninguém podia ser retirado do
topo do sistema a menos que 75% votassem contra esta pessoa. Estudei a lista e
me dei conta que mais de 25% deles estavam em uma condição duvidosa. Qualquer
coisa que eles votassem não iria acumular os 75% para retirar alguém com um
comportamento errado, porque mais de 25% deles estavam em tal situação. Eles
mataram a si próprios. Eles haviam criado um sistema cujos processos de proteção
já não podiam funcionar, já não havia uma proteção real, ao contrário, estavam
emitindo legislações e guias erradas. Foi então quando decidi buscar um Sadhu
que me guiasse, porque não queria que minha vida fosse restrita e limitada ao
julgamento defeituoso das pessoas que me proibiam de seguir meu coração e
compreensão do que Srila Prabhupada queria que fizesse.
Agora leio que este absolutismo também foi aplicado ao
mestre espiritual individualmente. Mestres espirituais foram colocados em
posições onde só entregariam mantras ritualísticos, posto que se pode receber o
mantra de um repodutor de som ou da boca de alguém. Gravações foram utilizadas
por Srila Prabhupada para algumas das segundas iniciações nas que não esteve
presente pessoalmente. Algumas pessoas dizem: “Bom, foi feito isso enquanto
Srila Prabhupada estava aqui, por que não fazer agora que ele não está mais se
é o mesmo mantra com o mesmo poder?”. Sim, isso é verdade, é o mesmo mantra com
o mesmo poder, mas o elemento de aceitar um mestre espiritual é o de se render
a alguém e servir a alguém. Você diz: “Não, você não tem que servir ao Guru,
você só tem que servir à instrução do Parama Guru”, isso significa que todo seu
serviço tem sido posto em um marco abstrato de conexão porque você não confia
completamente em ninguém.
Existe outra deficiência, porque o elemento de amor e
confiança são instrumentais, é a chave para se entregar e ser entusiasta na
vida espiritual, e tem duas vias, o Guru o ama e confia em você, porque, de
outra forma, como ele te diria para sair e pregar? Se o Guru pensasse que você
fosse falso e fosse especular ou enganar as pessoas, ele te pediria para sair e
pregar? Eu te pediria para dar uma aula diária sobre Krishna se sei o que você
vai fazer é mentir e confundir as pessoas? Isso seria suicídio da minha parte.
Então digo, deem a mensagem de Srila Prabhupada em amor e confiança, você é
capaz e Krishna talvez fale através de você. Quem sabe no dia de amanhã quando
você estiver lá fora pregando sobre Krishna, alguém te diga: “Me encanta o que
você diz. Tenho U$10.000,00 e não estou fazendo nada com eles, você pode usar
para Krishna?”. Por que não? Está proibido de receber uma doação para Krishna? Não,
não está. Então essa pessoa vem e dá a você porque você deu uma aula que a
tocou profundamente. Agora você tem U$10.000,00, obrigado!
Se você, nesse momento, pensar que o dinheiro é seu,
então você cai nesse mesmo instante. Você recebeu isso por parte de Krishna e
se supõe que você deve utilizar cada centavo para Krishna, de outra forma você estará
enganado, mas quando eu falo de amor e confiança significa que o Guru confia em
você, faça isso apropriadamente. Se alguém não fizer apropriadamente, então a
reação estará em sua conta. Em outras palavras, o discípulo tem que ser
responsável, mas não pode basear minha vida inteira em desconfiança, porque se
desconfio de todos, então não posso pregar. Não posso dizer: “Há algo muito
secreto, muito sagrado, muito belo e muito incrível que estaria a ponto de
entregar, porém, não posso, pois o problema é que não confio a você este maha.”
Então você tem que se dar conta por si mesmo de suas realizações internas.
Não, não é assim, apenas prego o Maha Mantra e estou
dando a alguém a oportunidade de se desfazer de todas as atividades pecaminosas
e de entrar em um entendimento espiritual. E este é o poder do mantra, não o
poder de minhas palavras, é tudo o poder da graça. Então, quando você não
confia nas pessoas, está em má condição. Agora, vice-versa, a confiança também
vai com o tempo que eu entrego e na confiança que recebo.
A vida espiritual é uma relação de confiança, inclusive
em um matrimônio ordinário existe uma relação de confiança porque se trabalha
junto, se põe dinheiro junto e se dorme um junto ao outro, o que significa que
enquanto você dorme, a outra parte poderia teoricamente tirar uma faca. Ninguém
tem um guarda-costas ao lado de seu esposo ou esposa, se o matrimônio for uma
relação de 100% confiança, então por que a relação Guru-discípulo não deveria
ser? E não há instituição que seja maior do que a relação de esposo e esposa,
exceto o tribunal. Às vezes, o esposo e a esposa acabam no tribunal e ela diz
que ele fez isso e aquilo, e o tribunal pode julgar a relação, mas quem é o
tribunal acima do Guru? Onde está esse tribunal? O discípulo se rende ao Guru e
diz: “Por favor, me entregue o mantra! Por favor, me dê serviço! Por favor, me
aceite! Quero ser seu filho espiritual!”, e o Guru diz: “Sim, te aceito como
meu filho e te aceito como parte da família.”
Existe uma conexão pessoal muito íntima, e quem vai
julgar isso? É claro, a verdade julgará, Paramatma julgará, a história julgará,
mas nessa conexão privada e pessoal que vai ser o juiz? Sim, algo está falho,
só o próprio Krishna pode corrigir, porque se você disser que há um Guru, então
há um discípulo, mas por cima dos dois há um Sadhu Samaj, GBC e se você tiver
um problema, pode falar com eles e o Guru não terá nada o que dizer, ele só
poderá repetir o que o painel de conselheiros disser, isso significa que o
painel não confia no Guru, então como pode o discípulo confiar no Guru? O painel
de conselheiros disse: “Não confiamos no Guru, só pegue o mantra dele, mas não
confie nele. Porém, deve confiar em nosso critério porque nós colocamos aí este
Guru e também podemos tirá-lo. Nós te daremos um Guru substituto se este
falhar, temos Gurus extras para tais casos, mas tudo está sob o painel de conselheiros,
não na posição do Guru”, mas não é o que está apresentado no Bhagavad Gita
4.34, onde diz:
tad viddhi pranipatena
pariprasnena sevaya
upadeksyanti te jñanam
jñaninas tattva-darsinah
“Tente aprender a
verdade aproximando-se de um mestre espiritual. Faça-lhe perguntas com
submissão e preste-lhe serviço. As almas autorrealizadas podem lhe transmitir
conhecimento porque elas são videntes da verdade.”
Esta é a pergunta: ele viu ou não a verdade? Bom, nós
acreditamos que viu se tiver conhecido Srila Prabhupada e vive em serviço a
ele, e se ele não tiver visto, então Srila Prabhupada e Krishna viram e eles
estarão encarregados disto.
Voltando ao ponto de siksa Guru – é uma instituição tão
poderosa e é às vezes dada às pessoas como os presidentes de templos que
estiveram dois anos em consciência de Krishna. Algumas vezes as pessoas têm que
tomar as responsabilidades de gerência de um templo. Quando fui presidente de
um templo na Dinamarca, eu tinha dois escassos anos e meio no movimento e de
repente um templo inteiro dependia de mim. Também temos que ver o lado prático
e temos que ver quão importante é o amor e a confiança. Se formos eliminar o
amor e a confiança das transações das organizações espirituais do mestre
espiritual, do representante do mestre espiritual e quisermos institucionalizar
todo o assunto, então não estaríamos seguindo a tradição de nosso Parampara
espiritual.
Em nossa tradição, o sistema ritvik está no coração do
devoto porque ele sente que seu Guru é um Guru real; isso é apropriado. Mas uma
conexão institucional, mesmo a conexão formal de um diksa Guru, foi rejeitada
em alguns casos em nosso Guru Parampara, como quando Bhaktivinoda Thakur
declarou sua principal conexão com Srila Jagannath das Babaji Maharaja e ele
não foi sua conexão diksa, mas ele deu preferência à conexão siksa Guru por
cima da conexão diksa. E há outros exemplos como esse onde Srila Bhakti Rakshak
Sridhar Maharaja explica que este é o Siksa Guru Parampara.
Então, esta é uma das considerações aqui. Se você
refletir sobre isso, você encontrará que o Parampara institucional não está
muito bem preparado ou posso perguntar onde está o Parampara institucional de
Srila Rupa Goswami no mandir de Radha Govinda em Vrindavan ou o Parampara
institucional de Sanatan Goswami no templo de Radha Madan Mohan ou o Parampara
institucional de Ragunath das Goswami, Madhu Pandit... Onde estão?
Virtualmente estão ausentes. Algumas pessoas disseram que
se refere a um direito familiar e outros veem que os edifícios são
administrados pela sociedade arqueológica da Índia. Então, onde está o
Parampara? Os Paramparas institucionais praticamente desapareceram ou existem
algumas pessoas que dizem que elas têm. Ao menos podemos ver que não há
realizado muito trabalho e no caso de Srila Prabhupada, ele teve que contrariar
o Parampara institucional porque havia uma conexão disponível. Quando ele foi ao
ocidente, ele buscou representar um mestre da Índia que tinha uma posição mais
elevada na instituição de seu Guru, mas Krishna não quis. Então Srila
Prabhupada teve que começar sua própria instituição, mas ele também disse: “Existem
muitas instituições que estão aí para salvar as pessoas da ignorância e
entregar Krishna, e minha instituição é uma destas.” Srila Prabhupada nunca
disse: “Minha instituição é a única instituição e todas as outras estão inválidas
e devemos contrariá-las.”, ou algo similar a isso ou: “Eles são desvios porque
eles não vêm e se rendem ao meu marco institucional.”
Quem que tenha tais ideias, devo dizer honestamente que é
falso. Essa pessoa é sectária, fanática e ainda pior, poderia se converter em
um vaishnava aparadhi (ofensor), e se você pratica ou ensina Vaishnava
aparadha, que boa fortuna pode vir a você? É a ofensa elefante – menosprezar,
minimizar, criticar e maltratar as pessoas que estão conectadas com outras
famílias espirituais, estas são todas as diferentes Vaishnava aparadha. Então,
só tais indivíduos podem nos salvar porque podem impregnar o que se chama amor
e confiança e eles podem conseguir uma realização pessoal, a qual esperamos que
eles possam obter.
Espero que meus discípulos sejam tão qualificados como
siksa Gurus para que possam entregar a misericórdia do meu diksa Guru a 100% de
qualidade. Esta é uma expectativa muito grande para os amigos da minha alma,
quero representá-los a 100% de algo que eu mesmo não entendo. Boa pergunta,
não? Mas entendo eu a Krishna? Não. Entendo eu a Srila Prabhupada? Não. O amo! Sinto-me
agradecido! Vou tentar fazer o que ele me disse que fizesse, mas não posso
mentir e dizer que entendo a Srila Prabhupada. Entendo a Srila Sridhar
Maharaja? Não. Escutei que Krishna não entende a Si próprio, então não devo me
sentir mal por não entendê-Lo também. Mas simplesmente porque Krishna não Se
entende, isto não minimiza a Krishna ou faz Sua missão menos importante para o
mundo. Não penso assim, este é o domínio de amor e confiança... No amor e
confiança às vezes não se entende.
Não entendo o poder do Maha Mantra, mas vi... Vi como
trabalha nas pessoas. Estou muito agradecido pelo poder do Maha Mantra, mas O
entendo? Entendo o Bhagavad Gita e o Srimad Bhagavatam? Os leio todos os dias,
penso que é genial o que se ensina neles, mas entendo o Srimad Bhagavatam?
aham vedmi na vetti va
vyaso vetti na vetti va
bhaktya bhagavam grahyam
na buddhya na ca tikaya
O senhor Siva disse: “Eu conheço o significado do
Bhagavad Gita e sei que Sukadeva também sabe, mas Vyasadeva talvez saiba. O
Bhagavad Gita só pode ser entendido por meio do bhakti, não por inteligência
mundana ou por leitura de muitos comentários.”
Considerando o todo, Srimad Bhagavatam, o Purana sem
mancha, pode ser aprendido somente pelo serviço devocional e não por
inteligência material, métodos especulativos ou comentários imaginários.
Sukadeva Goswami entendeu o Srimad Bhagavatam. Vyasadeva talvez tenha
entendido. Mas como pode não ter entendido se foi ele quem escreveu? Como pode
não haver entendido? Porque às vezes, Srila Sridhar Maharaj disse, que as
coisas descendem de uma maneira especial de alguém a outro alguém, o do meio
não entende, mas o que recebe entende. Isto é o que Srila Sridhar Maharaja quer
dizer, isso é o que amamos e nisso confiamos. Amamos e confiamos que esta
missão é a missão de Krishna e que se algo falhar, então Ele virá e intervirá,
e ainda assim ensinamos às pessoas a amarem seu diksa (iniciador) e siksa (instrutor)
Gurus, porque se não dissermos que amamos e confiamos neles, então eles não nos
inspirarão, eles não terão o entusiasmo para servir ao seus diksa e siksa
Gurus, a participarem do centro do coração, a se arriscarem como seus Gurus
estão se arriscando pelo serviço de seus Gurus.
Ao final, Srila Prabhupada disse: “Os Gurus se revelam por
si próprio.” Eles estão atuando por parte do Senhor, de seu mestre espiritual e
de sua própria consciência, e se a graça divina descende sobre eles, então eles
serão capazes de mostrar uma transformação incrível, tanto em quantidade como
em qualidade, ou nas duas, de outra forma não: “krsna sakti vina nahe tara
pravartana – Aqueles empoderados serão reconhecidos como genuínos
representantes do Parampara e de seu mestre espiritual.” E o que dirão eles se
você se aproximar e perguntar pessoalmente sobre isso? Eles dirão: “Não, não,
não, eu não sou empoderado, o que está acontecendo aqui é o poder do meu Guru. Todas
as glórias a ele! Você e eu, todos dependemos de sua graça, mas isso não é
ritvik, é representativo.”
Por meio do humilde representante e a cadeia ou sucessão,
este movimento inteiro continuou e se mantém vivo. As instituições podem
verificar e balancear, podem organizar as coisas que não são tão facilmente
organizadas por indivíduos – por exemplo, o Vishva Vaishnava Raja Sabha. Eles
convidam a todos os grupos Vaishnavas a limparem o dham (lugar) sagrado juntos.
Se você quer limpar 100 ou 200 metros em cada direção do seu belo Mandir, já
temos uma Vrindavan limpa – há muitos templos em muitos lugares. Então temos o
espírito de fazer as coisas juntos, de nos ajudarmos... Por exemplo, se um
devoto publicar um lindo livro sobre a ciência da espiritualidade (como um
devoto chamado Govardhan fez em Mayapur que mostrou a importância dos
ensinamentos de Srila Prabhupada e a evidência encontrada nos descobrimentos
científicos para os ensinamentos transcendentais), não seria isto apreciado e
usado por todos os vaishnavas? Possa a ciência ou o trabalho ser restrito à
ajuda caridosa só às pessoas que pertencem a sua instituição? Quando os
cientistas, filósofos e filantropos se tornam sectários, então você pode
seguramente se dar conta que este é o fim da espiritualidade. Então, no
departamento da filosofia espiritual e também onde se aplique esta filosofia no
aspecto prático de decisões, tem que haver liberdade, tem que haver um critério
individual e tem que haver amor e confiança. De outra forma, não haverá gozo ou
progresso.
Se estas observações foram de benefício a alguém que
escutou, será o meu grande prêmio, porque minha única ambição é me converter em
um servo do servo dos servos daqueles magníficos Vaishnavas. Temos que
desenvolver gosto por Srila Prabhupada e por Sri Chaitanya Mahaprabhu.
Seu sempre bem-querente,
Swami B. A.
Paramadvaiti.
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