“Apenas temos de ser humildes e aceitar que o sadhana
é nossa conexão. O sadhana é como a tomada de um aparelho quando precisa de
eletricidade, se não houver eletricidade imediata, a luz vai embora.”
Hare
Krishna, meus queridos devotos! O tema da conferência é a importância do
sadhana.
Sadhana,
sandya é o amanhecer por um novo dia, é muito interessante, porque é um novo
recapacitar da minha existência neste mundo. Por isso, no sandya os brahmanas
cantam Sandya Vandana, dão a boas-vindas ao novo dia e oferecem reverências a
todas as forças universais.
O Sandya
Vandana é parte do sadhana e a perfeição começa com o Mangal Arati. Se tiver
sai Istadev ou sua Deidade em casa, não começará o dia vendo notícia nem
tomando seu café, ou simplesmente correndo ao trabalho... O dia tem que começar
com Sandya Vandana. Adoração ao novo dia, adoração aos devotos e aos familiares
que nos acompanham:
vanca kalpa
tarubyas ca
kripa
sindhubhya eva ca
patita nam
pavanebyo
vaisnavebyo
namo namah
Muito
importante! A toda pessoa que convive conosco, começamos lhe reverenciando. E
ao mestre espiritual, quem põe a pauta de convivência e princípios do dharma,
também sempre é reverenciado. “Vande ham, sri-guroh” é plural, porque não é
apenas um mestre espiritual, são todos os siksa gurus, os que nos mantêm no
caminho da devoção.
Oferecemos
reverências a todos eles, e faço a todos para que a coisa funcione, porque
mesmo que não sejamos tão hierárquicos como os militares em essência, se não
nos motivarmos e não fizermos as coisas como deve, então nos desviamos. E
desviar-se tem seu preço, desejando não chega-se ao destino. Por isso, tem que manter-se
no caminho mesmo que seja como um atalho, ou de repente se tiver algo
bloqueando seu caminho.
Por
exemplo, hoje Gopal deu uma super volta em Quito, pois havia uma maratona na
cidade e não nos deixariam passar, mas com esforço finalmente conseguimos
chegar ao templo. E assim nós planejamos mais um dia de serviço devocional.
Somente através da invocação da misericórdia, pois sem a misericórdia não tem
nada. Então, o Sandya Vandana é Guru, Vaishnavas, Tulasi. Por isso adoramos
Tulasi nos templos.
Na Índia
todos têm Tulasi em casa e antes de fazer qualquer coisa diz-se:
vrindayai
tulasi-devyai
priyayai
keshavasya ca
krishna-bhakti-prade
devi
satyavatyai
namo namah
“Planta
sagrada, planta bendita, que venha purificar o mundo, me permita ter amor por
Radha-Krishna e Radha-Govinda.”
Isso é o
que suplico, não há outra coisa que me interesse. Então assim a adoração a
Tulasi é parte do sadhana, logo podem vir uns bhajans.
Os bhajans
do Mangal Arati são o nosso caso, pois cada templo canta canções distintas:
“samsara-davanala-lila-loka, tranaya karunya-ghanaghanatvam”. Pedimos
misericórdia ao mestre espiritual para compreender o significado de Radha
Krishna Lila, do Senhor Caitanya, da adoração à Deidade, da importância de
cantar o Santo Nome, ou melhor, nas oito partes do Guru Astaka está descrito
como pode-se conseguir a misericórdia, e logo vem a canção de Vrindavan:
yasomati-nandana
braja-baro-nagara gokula-ranjana kana
gopi-parana-dhana
madana-manohara kaliya-damana-vidhana
Esta canção
nos leva diretamente a Vrindavan, ao Senhor Krishna, Suas travessuras, as
gopis, os Santos Nomes e ao Yamuna: “Yamuna tata-cara, gopi-basana-hara...”
Todo o
Radha Madhava Lila está impregnado aí, alguns cantam kaki-kukura para se
lembrarem de Sri Caitanya que vem para nos salvar do cão de Kali. Essas coisas
não são absolutas, dependem de cada templo, e então se enquadra o sadhana.
Por
exemplo, depois que adoramos o Senhor Caitanya vem o Prema Dvani. O Prema Dvani
é muito importante, “jaya om visnu-pada paramahamsa parivrajakacarya
ashtottara-sata sri srimad srila bhaktivedanta svami prabhupada ki jay” e
continua, “vrindavan dham ki jay, mathura dham ki jay, jagannath puri dham ki
jay, ganga meya ki jay, yamuna meya ki jay”, fazendo assim uma oferenda a tudo
que é sagrado, bonito, para recordar. Sem eles não somos nada, estamos
perdidos, então dessa maneira segue o sadhana.
Logo vem o
Senhor Nrsimhadev. O Senhor Nrsimhadev é o protetor dos devotos, por isso todos
os dias Lhe cantamos uma canção. Srila Prabhupada nos ensinou isso
pessoalmente, ele queria proteger seu movimento da loucura.
Há muita
loucura para se proteger, então por isso vem “namas te narasimhaya,
prahladahlada-dayine...”. Com o Nrsimha Pranam ficamos bem com o sadhana. Mas
agora vem o Siksastaka, lembrar das oito estâncias de Sri Caitanya Mahaprabhu:
ceto-darpana-marjanam
bhava-maha-davagni-nirvapanam
shreya-kairava-candrika
vidya-vadhu-jivanam
...
Depois do
Siksastaka vem japa, o Maha Mantra Hare Krishna. O cantar da japa
individualmente é parte do sadhana da manhã. E você sabe, dependendo de quanto
tempo tenha canta 4, 8, 12, 16 rondas e começam os serviços. Alguém tem que ir
à cozinha, tem que fazer isso e aquilo, mas vem a parte mais importante, já
cantamos japa, agora:
jaya
radha-madhava kunja-vihari
gopi-jana-vallabha
giri-vara-dhari
jasoda-nandana
braja-jana-ranjana
jamuna-tira-vana-cari
Essa canção
é uma janela que se abre ao mundo espiritual, é diretamente abrir e ver
Vrindavan. Jaya Radha Madhava é algo muito belo e importante. Assim você vê ao
mundo espiritual, é uma grande janela. E os que aproveitam esta janela, esta
imagem de Vrindavan onde pode-se ver Radha Krishna e Seus devotos, começam a se
sentir em casa, começam a se sentir refugiados. Esta é a eterna Vrindavan, e a
eterna Vrindavan é uma coisa maravilhosa.
É inacreditável
como foi manifestada a eterna Vrindavan neste mundo e como nos convida, é algo
inédito. Um pequeno exemplo meio bobo é como se o presidente dos Estados Unidos
viesse ao Equador e desse uma vista dos Estados Unidos a todos equatorianos e
um quarto na Casa Blanca para viver com ele e ajudá-lo, com comida, teto e tudo
para o resto da vida. Não daria para imaginar, porque a Casa Blanca é muito
pequena, não cabem todos, e além disso, não cabem todos os corações. Além deles
não terem esse coração.
Mas quando
Krishna vem a este mundo, Ele diz: “Agora você vem à Minha casa, a conviver
comigo, você pode ficar aqui fazendo serviço, vou te abrigar. Sua alma Me
pertence, é constitucionalmente parte do Meu mundo. Vocês estão desviados deste
mundo material, embarcando a cada momento e eu quero que parem com esta loucura
e quero que agora comecem a colocar serviço no coração. E por isso Eu os
convido a cantarem Meus Santos Nomes, pois assim estarão em contato Comigo a todo
o tempo. E mais, enquanto cantarem Hare Krishna estarão nos meus santuários que
estabeleci no mundo, ou seja, vocês estarão no mundo espiritual.”
Ou melhor,
Krishna não apenas promete que depois de morrer chegará ao mundo espiritual,
Ele faz que os devotos tragam o mundo espiritual aqui à Terra e que abram as
portas, abram espaços. As pessoas não apreciam o que é um templo, as pessoas
não imaginam que estas sejam sucursais do mundo espiritual.
Vocês
sabem, a embaixada norte-americana é território americano, lá não entra a
polícia equatoriana, similarmente, o templo de Krishna é uma parte de Goloka
Vrindavan, já pertence à Goloka Vrindavan. Se pensar “não, aqui é o Equador,
sem mais”, estará equivocado, por isso os templos e as inversões que fazemos
nos templos são inversões no mundo espiritual.
Em outras
palavras, se quiser criar um templo, um templo no mundo espiritual, estará
criando o mundo espiritual aqui na Terra, e se dedicar-se a isso por toda vida,
será transferido deste mundo diretamente ao mundo de Krishna, porque já tem
vista, já tem preparo, já fez sadhana e o sadhana diário é aquilo que fazemos
sempre para nos mantermos vigentes.
Quando
deixa de fazer sadhana, de cantar japa, quando deixa de trabalhar para a causa
de Krishna, então o sadhana começa a debilitar-se. Quando deixa de associar-se
com os devotos, debilita-se mais. Se não trabalhar no dia para produzir algo
para Krishna, debilita-se mais. Quando não vai ao Mangal Arati, debilita-se mais.
Se não cantar o Gayatri, debilita-se mais. Se não orar ao Senhor Nrsimhadev,
debilita-se mais.
Ou seja, o
sadhana é o que nos alimenta e fortalece. Assim como todos comem desjejum e
depois comem ao meio-dia, assim como alimentamos o corpo na manhã, ao meio-dia
e às vezes à noite, também nosso corpo espiritual e determinação espiritual
precisam de sua alimentação. Isso se chama Sandya Vandana, o Sadhana.
Esta é
nossa alimentação. Agora, se alguns devotos não puderem acompanhar porque foram
mandados a fazer um serviço aqui ou ali, quando atua-se sob a ordem do mestre
espiritual sempre faz-se sadhana. Nem sequer quando esteja fazendo nada de
sadhana porque está em coisas burocráticas ou organizando um programa, quando
faz-se serviço ao Guru está ocupado em sadhana em todo sentido. Mas não deve-se
negligenciar o sadhana com o pretexto de serviço, “estou servindo ao Guru
dormindo um pouco mais para ter mais força.”
A mente
produz um monte de desculpas, por isso os bons devotos são os que mantêm um
sadhana, são reconhecidos, são os que levantam ao Mangal Arati, praticam, dão
aula. Há muitas coisas que um devoto pode fazer para mostrar que é um bom
devoto... Ir ao sankirtan com entusiasmo, dar conferências, mas há de praticar
também, não apenas falar.
Há muitas
formas onde pode-se expressar como um bom devoto, isso é muito bonito. Apenas
temos de ser humildes e aceitar que o sadhana é nossa conexão. O sadhana é como
a tomada de um aparelho quando precisa de eletricidade, se não houver
eletricidade imediata, a luz vai embora.
Agora não
tem problema porque há sol lá fora, não precisamos de eletricidade. Mas o que
pensa se for tirada a tomada de algo? Tudo o que supostamente funciona sob a
energia elétrica já não funciona, mesmo que tenha um lindo aparelho. Existem
aparelho caros, mas sem energia não funcionam, não fazem nada.
Então,
dessa forma, a tomada é o sadhana da vida espiritual e as pessoas que vivem na
casa sem sadhana, sem Mangal Arati, tem que ser ajudadas, estas que não têm a
companhia dos sadhus, que é o animador no sadhana.
Vejo vocês
muito animados, vejo a cara que me olham, estão absorvendo cada palavra que
digo. Sinto-me muito afortunado, sinto-me privilegiado e muito comovido pela
atenção que me dão.
Se aqui
houvesse uns quatro dormindo, o que eu faria? Eu faria outra coisa. Não há
muito tempo para si na vida devocional, mas está tudo bem. Trabalhamos duro,
vamos seguir lutando, não vamos jogar a toalha, em associação com os devotos
continuaremos.
E se
estiver em uma fazenda ou fora da cidade, mais difícil ainda. Tem que ajudar a
fazenda, tem que coletar para a fazenda, levar tour à fazenda. Neste mundo há
muitas coisas a serem feitas, os devotos têm muito trabalho. Quase não há tempo
para o sadhana, mas não se esqueçam, seu trabalho também é sadhana. Se algum
devoto estiver doente, tem que atendê-lo, torna-se prioridade. Então, há muito,
há uma hierarquia.
Guru seva,
Vaishnava seva, são como hierarquias de atenção. Nam seva, cantar Hare Krishna
é o mais elevado, mas Guru seva e Vaishnava seva são abençoados no Nam seva.
Nam seva,
Dham seva, há muitos. Por isso deve-se ter claro que isso é muito importante. E
quando cantar japa e o Guru te chamar, pode dizer: “Gurudeva, estou cantando
japa, não posso atendê-lo”. Se cometer uma ofensa ao Santo Nome, o Santo Nome
não vai gostar, então, temos que ver que haja uma sequência natural, uma
hierarquia do coração.
Mas o Guru
não te chama para dormir, a não ser que esteja muito doente ou muito cansado. O
Guru diz: “Você está dormindo a cada momento, não está mais pronunciando nenhum
mantra. Vá descansar 10 minutos e depois cante bem”.
Também
existe isso, o Guru é muito amplo, é muito flexível, ele adapta-se ao tempo,
lugar e circunstância. O Guru não é quadrado e está proibido dizer algo em nome
do Guru: “Meu Guru disse que tem que fazer isso e aquilo”. Não, não é assim.
Não tem que convencer uma pessoa do que deve-se fazer.
Srila
Prabhupada proibia dizerem “Prabhupada said” (Prabhupada disse), ele dizia: “O
que eu quiser que você saiba, colocarei por escrito”. Como na justiça, na corte
que busca 3 ou 4 lados da mesma história e assim chegam a um acordo. Isso é
justiça, quando não há corrupção.
Hoje em dia
há muita corrupção, por isso não acreditam muito na justiça. Mas a vida
continua, temos que lutar. Não podemos jogar a toalha, pelo menos temos que
fazer justiça entre os devotos, entre a comunidade.
Agradeço
muito a todos que fazem sadhana. E com estas palavras me despeço. Um grande
abraço a todos de coração.
Srila
Prabhupada ki jay!
Seu sempre
bem-querente,
Swami B. A. Paramadvaiti.