domingo, 16 de junho de 2013

O convite

O convite



"A única coisa que pode te guiar é a estrela do teu coração sincero e os incentivadores comentários dos Bhaktas do Senhor, eles te falam do mundo que está muito além da visão analítica, muito além dos cálculos materiais, muito além da falsidade. O mundo do Bhakti está governado pelas leis divinas do amor, além do olhar material que só vê o abismo, mas o coração guiado pela fé sente confiança."


Queridos devotos, aceitem todo o meu carinho de Cali Mandir. 
Em pouco tempo indo visitar os devotos do Equador.

Hoje quero refletir sobre algo que não nos questionamos muito frequentemente, mas é o básico na vida, principalmente na vida espiritual. Poderíamos começar esta conferência com uma pergunta muito simples, mas importante: “Qual é a sua meta?”, se pensarmos um pouco nisso, nos daremos conta que não é algo que refletimos muito frequentemente. Inclusive, podemos ver que os líderes da sociedade, os governantes, etc., não têm muito claro as metas de suas vidas, ou se as tiverem, estão totalmente mal dirigidas. Não são do tipo de governantes ideais dos tempos védicos, assim como o Rei Bharata, Yuddhistir Maharaj, Ranti Deva, entre outros. Atualmente existem muito poucos exemplos desse tipo de governantes corretos e exemplares, para não dizer nenhum. É por isso que o mundo carece completamente de orientação e clareza em seus objetivos da vida. Assim, nós mesmos devemos nos encarregar para ter bem definido nossos ideais e de identificar o que desejamos fazer com nossa vida e atuar de acordo com isso.
Então, meus queridos, eu pergunto a vocês: “Quais são suas metas? O que querem fazer com suas vidas?”, tem resposta a isso? Se não houver uma resposta clara, é muito preocupante, porque devemos saber o que fazer da vida, senão terminaremos sendo dirigidos pelos impulsos dos sentidos ao ritmo das modalidades da natureza material: três passa para cá, três passos para lá, logo seis para o outro lado, quatro de volta e ficaremos parados sem saber onde ir. Nesse sentido, os vedas são muito claros, pois nos ensinam o que devemos saber, o que queremos. Devemos aprender sobre quem somos e para onde vamos (ou deveríamos ir). A cultura vaishnava nos ensina que nesse caminho é muito importante o fato de aceitar um mestre espiritual, é a chave do assunto. Claro, não é uma obrigação, mas sim é o que faz com que todo o processo se faça real e tangível, que caminhemos pela via segura.
A vida espiritual é como uma grande escada que tem muitos degraus, e cada degrau que se avança é um passo seguro até Krishna. Cada passo no progresso espiritual é tão real e se faz mais profundo quando é guiado por alguém vinculado com Krishna mesmo. As pessoas que não aceitam uma autoridade para acvançar nesta escada ou que pensam que não existe nenhum caminho, nenhum destino, estão completamente perdidas. Para elas não existe nem origem (causa), nem caminho, nem destino, ou seja, não têm nenhum objetivo para suas vidas. Mas a vida sim tem um sentido e devemos lutar para lembrá-lo sempre. Não chegamos a este mundo para nos dedicarmos a satisfazer os sentidos, tampouco viemos para passar a vida gozando, explorando lindas meninas ou meninos, ou simplesmente desfrutando do dinheiro. Para que viemos então? Para servir.
Agora vamos identificar este processo passo a passo:
  1. O início é bem simples, o primeiro passo consiste em se tornar uma pessoa moral.
O que significa isso? Quer dizer se converter em alguém honesto, pois uma pessoa que não seja honesta, só demonstra o que se encontra em uma etapa de consciência bem baixa. As pessoas são muito desconfiadas hoje em dia, por isso a honestidade é nossa melhor ferramenta para nos proteger de Maya Devi. Você convidaria à sua casa alguém que não seja honesto? Aceitaria que alguém desonesto se aproxime de sua família? Os mais provável é que não. Por isso a moral e a honestidade são tão importantes. Seguir os 4 princípios que Srila Prabhupada nos deixou são a base da honestidade. Srila Prabhupada disse que estes 4 princípios nos ajudarão a nos tornarmos verdadeiros seres humanos. Imagine, temos um corpo humano, mas atuamos como animais. Só seguindo os 4 princípios nos asseguramos que a consciência humana está protegida. Dos 4 princípios adiante, não para trás.
Devemos lutar dias após dia para descartar a mentira e escolher a verdade, para descartar a crueldade e escolher a misericórdia, para descartar a sujeira e escolher a limpeza, para nos tornarmos honestos e responsáveis. Esse é o primeiro passo: reconhecer que devemos nos tornar honestos e responsáveis.

Logo vem:

  • O salto
Depois de começar o processo de se tornar responsável, o devoto começa a desejar avançar mais degraus na vida espiritual, se qualificar no serviço. Claro, um devoto não deseja avançar para conseguir realizações materiais, não deseja se converter em karmi, jñani ou yogi, o devoto deseja se qualificar ainda mais para ser recebedor de misericórdia. Ao mundo do Bhakti só se chega por misericórdia e pelo sincero desejo de rendição. Aí é onde nos anima para dar um grande salto, porque no mundo do Bhakti se acabaram os degraus, no mundo do Bhakti só há um grande abismo.
Depois de chegar ao final da escada, ao topo da montanha, podemos pensar que se acabou e que já conseguiu o que buscava, mas é aí onde vem a prova e só o verdadeiro devoto (sincero e rendido) se reconhecerá... O devoto rendido se dá conta que chegou ao topo, mas que isso não é tudo, que ainda falta algo mais. Essa é a mística do Bhakti. Quando o devoto chega ao topo, depois de ter subido degrau após degraus com muito esforço e dedicação, seguindo fielmente a pegada deixada pelo mestre espiritual, recebe um convite muito especial:
Krishna lhe diz:
- Pula!
- Pular para onde? Ao vazio? - Aí é onde a mente começa a questionar - Mas como vou pular? Não vejo nada, só há vazio. Se eu pular, vou cair.
Krishna lhe diz:
- Tranquilo, é só pular que Eu te pegarei.
A mente não gosta muito da proposta, ela pensa:
- Se eu pular, quem vai me ajudar? Não vejo segurança nisso...
E Krishna volta a insistir: 
- Não se preocupe, é só pular!
Mas a mente (bem insistente) nos faz pensar:
- Agora tenho terra de baixo dos meus pés, inclusive cheguei ao topo depois de tanto esforço, por que deveria pular?
Enquanto Krishna diz:
- Você só chegou à dimensão da fé e nesta dimensão não há ninguém que te assegure de nada. A única coisa que pode te guiar é a estrela do teu coração sincero e os incentivadores comentários dos Bhaktas do Senhor, eles te falam do mundo que está muito além da visão analítica, muito além dos cálculos materiais, muito além da falsidade. O mundo do Bhakti está governado pelas leis divinas do amor, além do olhar material que só vê o abismo, mas o coração guiado pela fé sente confiança.
Mesmo depois de tão clara mensagem do próprio Senhor, a mente continua duvidando e pensa:
- Isso vai contra tudo o que conheci até o momento, por toda vida aprendi a buscar segurança e agora devo abandonar tudo o que vejo e tenho seguro...
E Krishna pacientemente volta a insistir:

sarva dharma parityaya
mam ekam saranam vraja
aham tvam sarva papebhyo
moksayisyami ma sucah

Muito claramente, Ele diz:
- Abandona todo o tipo de religião e se entregue somente a Mim, não tema.
Ai a mente se confunde ainda mais e chega a argumentar filosoficamente:
- Mas Senhor Krishna, como me pede isto? Primeiro me diz que quando há predominância da irreligião, o Senhor aparece para estabelecer os princípios do dharma e agora me diz para abandonar todo tipo de religião? O Senhor me confunde muito! Como posso entender isso? Sempre aprendi a estar baixo o refúgio seguro, inclusive o karma-kanda expõe claramente que tal sacrifício te leva a tal resultado, tal exercício traz tal consequência, tal aspiração leva a experimentar tal coisa, mas agora me diz que tudo o que consegui devo abandonar. Lutei tanto para conseguir tudo isso e agora tenho que deixar!
Assim, meus queridos, podemos ver que o amor é irracional. Não tem lógica e o que mais vale é não buscar a lógica, pois não vamos encontrá-la. Ao mundo do amor só se chega por rendição e sinceridade, facilitado pela misericórdia sem causa. 
A mente continua pensando:
- Todos os meus esforços foram em vão?
Mas Krishna diz: 
- Não, nada foi em vão, teve que passar por tudo isso para depois abandonar tudo.
- Como é isso? - continuamos duvidando - Trabalhei tão duro para conseguir tudo, tive reconhecimento, conhecimento, aprendi e ganhei tantas coisas e agora tenho que abandoná-las? O que recebo em troca?
E Krishna diz:
- Desqualificado, muito perguntão!
- Como assim desqualificado? - continua e continua insistindo - Nem sequer posso fazer perguntas?
E Krishna responde:
- Escute o convite do bhakti, o convite do amor do coração.

Quando acreditamos que chegamos ao topo, recebemos o convite do bhakti para nos jogarmos ao vazio e confiar que Krishna vai nos receber. Mas esse convite só pode ser aceito por um coração sincero que compreendeu que tudo o que recebemos tem sido manuseado por Krishna e que não há absolutamente nada que fique fora do Seu controle.
Esse convite não é visível aos olhos materiais. A visão materialista só vai ver insegurança e caos, enquanto o coração aberto consegue perceber o convite dinâmico e maravilhoso por trás do que parece incerto. Sri Krishna mesmo recomenda karma e jñana no Bhagavad Gita, mas na conclusão de Sua mensagem Ele diz: "Pode praticar para certas etapas, mas se quiser Me conhecer, só conseguirá por meio do bhakti, por meio da devoção sincera." Essa é a misericórdia mais maravilhosa, pois apesar do nosso karma, apesar das atividades pecaminosas, apesar de haver cometido os erros mais baixos, podemos pular ao mundo do Bhakti e nos entregarmos à vontade do Supremo.
Por isso, devemos ter muito claro o que falamos no começo: Lembrar-se de qual é a meta de nossa vida. E qual é? É nos entregarmos completamente ao serviço de Sri Krishna, acompanhados e servindo  aos vaishnavas. Se não tivermos isso como o objetivo claro de nossa vida pelo o que lutamos dia após dia, então os sentidos vão voltar a nos colocar a dançar ao ritmo da ignorância, da paixão e da bondade materiais.

Com estas palavras quero terminar o Chat de hoje.
Despeço-me deixando todo o meu afeto a vocês.
Jay Srila Prabhupada!

Seu sempre bem-querente,
Swami B. A. Paramadvaiti.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário