domingo, 12 de maio de 2013

A Consciência de Krishna é o compromisso com o amor ilimitado


A Consciência de Krishna é o compromisso com o amor ilimitado



Devemos ver a divindade em todos os seres, pois Krishna disse no Bhagavad Gita: “Quem Me vê em todos os lugares e vê tudo em Mim, Eu nunca Me separo dele e ele nunca está perdido para Mim.” Krishna está conectado com cada um de nós, porque Krishna nos ama, porque reside em nosso coração. Não é possível estar separado dEle e Ele nunca se separa de nós. Krishna disse: “Eu te amo e quero te dar conhecimento, lembrança, esquecimento, mas a Mim só pode conhecer com o teu amor, com tua rendição, não com desconfiança ou especulação intelectual. Sou acessível somente com as lágrimas sinceras do teu coração.”


            Queridos devotos, recebam todo o meu afeto de Miami Mandir. Hoje quero falar sobre o maior amor que conheci. Para começar, quero oferecer minhas sinceras reverências ao meu Mestre Espiritual Srila Prabhupada, que é o salvador da minha vida. Antes de conhecê-lo, não sabia nada sobre o amor, só tinha a experiência do maravilhoso amor que recebi da minha mãe. Mas, mesmo o amor de uma mãe que é uma das representações de maior amor desinteressado que podemos conhecer, não se compara ao verdadeiro amor, que está por cima de qualquer concepção material. Isto é algo importante de entender. Se ainda assim queremos saber sobre o amor divino, devemos buscar identificar quais são os exemplos mais próximo a isso, por exemplo: o amor de uma mãe, o amor de um casal e o amor espiritual transcendental. O amor de mãe é elevadíssimo, porque está preenchido de abnegação e serviço comprometido, isto é o que faz com que uma mãe seja muito famosa no âmbito do amor. Enquanto o amor de casal está baseado no modelo original recebido do casal divino, formado pela divindade masculina original e a divindade feminina original, Sri Sri Radha Govinda.
            Sobre o amor do casal divino foi escrito muitos textos. Um dos livros mais importantes à respeito do amor divino é o Gita Govinda de Srila Jayadeva Goswami que vai muito além da nossa concepção de amor. Sri Isopanisad é outro livro que revela que a origem suprema de tudo é o amor por Sri Radha; esse tópico também tem sido mencionado no Bhagavad Gita onde Sri Krishna disse que ao se refugiar nEle, podemos alcançar o nível mais elevado da consciência de Vraja, o amor de Vraja, que é o amor de Radha e das Gopis por Krishna, além disso, Sri Krishna acrescenta: “Não temas, Eu vou te proteger, apenas se refugie.”

sarva-dharman parityajya
mam ekam saranam vraja
aham tvam sarva-papebhyo
moksayisyami ma sucah

            O conceito de se refugiar no amor divino me faz recordar do ditado que fala: “Sem risco, não há ganhos”, pois rendição, disse Srila Prabhupada, é o único jogo de azar autorizado. Na rendição a Deus, tomamos todos os riscos para o maior dos benefícios. De todas as maneiras, na vida diária tomamos muitos riscos não muito espirituais, então por que não nos arriscarmos pelo amor divino? Só o fato de comer é um risco, pois não sabemos se algo do que está comendo te pode cair mal; caminhar também é um risco, porque a qualquer momento um carro pode vir e ser atropelado; se casar também é um risco, porque não sabe o que vai acontecer no futuro com a sua família. Estamos rodeados pelos riscos. A rendição ao amor divino é um risco onde devemos oferecer o coração por completo. Como não podemos servir diretamente a todas as pessoas e entidades vivas, então oferecemos o coração a Deus que é a fonte de tudo isso e dessa forma serve a toda Sua criação.
            Esse aspecto da espiritualidade onde o serviço rendido a Deus e aos Seus servos beneficia a toda humanidade, se vê refletido na vida monástica. Isso foi o que mais gostei desta forma de vida, porque permite se entregar a Deus por completo e fazer serviço para todo o mundo sem o limite de uma só família. Hoje em dia me sinto feliz por ter sido inspirado em tomar essa decisão que me permitiu conhecer a tantas pessoas maravilhosas que posso servir. Atrevo-me a dizer que não existe uma vida mais maravilhosa que a vida de renúncia e mais maravilhosa ainda é a vida de renúncia em serviço do movimento de harinama-sankirtan de Sri Caitanya Mahaprabhu, onde podemos oferecer todo nosso amor e serviço ao mundo inteiro.
            Uma vez, os devotos chegaram muito entusiasmados para me mostrarem um filme consciente chamado “A Corrente do Bem” (“Cadena de favores” ou “Pay It Forward”) onde uma criança pregava que nós deveríamos fazer um favor a três pessoas desconhecidas e quando elas perguntassem por que o fazia, se respondia: “Para que você faça o mesmo”, e assim se criava uma corrente de pessoas amáveis fazendo favores a outras pessoas. Mas o meu Mestre Espiritual deu uma instrução ainda mais potente, disse que do momento em que levantar até o quando deite, devemos fazer favores desinteressados a todas as pessoas que encontrar e não favores para o seu benefício material, senão que favores para o bem-estar de sua alma.
            Assim é a vida de sankirtan, um exemplo constante de sacrifício e serviço desinteressado que dificilmente pode ser comparado; especialmente no ashram monástico, pois dedicamos toda nossa energia para levar o processo espiritual com muita dedicação porque não temos mais expectativas: não precisamos de uma casa, nem uma cama, nem uma cadeira, muito menos uma televisão, só precisamos de tempo para servir, servir e servir. Tudo isso na própria prática, porque a vida de renúncia é só prática, nada de teoria. Há uma frase que me identifica muito: “Tudo o que não der é o que vai perder”, essa afirmação me faz pensar que devo entregar tudo o que tenho em forma de serviço sempre e o mais rápido possível, senão vou perdê-lo. Como monge, não tenho muito, materialmente falando, mas sim tenho meu amor, meu coração, minha palavra e o conhecimento recebido do meu Mestre Espiritual, tudo isso já é muito para entregar.
            O mundo material, em troca, nos leva ao egoísmo mais profundo, a tocar fundo guiado pela autossatisfação. No mundo material não existe a palavra “amor” ou “serviço desinteressado”, tudo está baseado no interesse pessoal. Se quiser aprender o significado real da palavra “amor”, deve fazer o bem a todos e começar por você mesmo; não tem sentido dizer que ama a sua mãe enquanto se droga ou intoxica. Não podemos falar de amor enquanto prejudicamos aos outros, ou pior ainda, enquanto somos responsáveis pela morte de milhares de animais nas indústrias de carne. Isso não é mais do que choro de crocodilo que mata sua presa  e “chora” enquanto a come. Em outras palavras, o  amor que buscamos com o coração, esse amor divino, tem um preço que não é só teoria, não é só apreciação intelectual, é um sacrifício concreto e constante; são os passos para a conduta do sanatan-dharma. O Srimad Bhagavatam declara que o verdadeiro dever do ser humano é fazer aquilo que desperta nele um desejo intenso de render serviço ininterrupto e imotivado para Deus.
            Se meditarmos no casal divino, podemos confirmar que não há nem o mínimo sintoma de competição entres eles, ou se houvesse seria apenas competição por satisfazer e servir de melhor maneira o outro. Onde cada um deles deseja se situar aos pés do outro, servir de todo o coração em um espírito de escravidão divina. Esse mesmo sintoma experimentam as Gopis, as melhores servas do casal divino. Em uma ocasião, Sri Krishna disse que tinha uma grande dor de cabeça e só o pó dos pés de Seus devotos poderia salvá-Lo de tal dor. Assim, mandou Narada Muni buscar a medicina tão especial, mas cada pessoa que ele perguntava, respondia que não podia lhe dar o pó de seus pés, porque era muito caído e se esse pó tocasse a cabeça de Sri Krishna ela iria diretamente ao inferno, pois é a maior ofensa que se poderia considerar. Narada Muni ficou muito frustrado, buscava e buscava, mas não encontrava ninguém que desse o que o Senho precisava. Até que lhe sugeriram que fosse a Vrindavan e falasse com as Gopis. Narada chegou até elas e pediu o pó de seus pés para levar a Sri Krishna, as Gopis imediatamente juntaram todo o pó que havia no chão e o entregou a Narada sem o mínimo temor. Narada perguntou se não acreditavam que haveria alguma reação por este ato, mas elas disseram: “Não faça perguntas tontas, corra logo porque Krishna está sofrendo. Se tivermos que ir ao inferno para que Krishna se alivie, então iremos.” Desta forma, Narada Muni viu a natureza do amor das Gopis.
            Poderíamos pensar: Que tipo de história é essa onde Deus chora pelo amor de Seus devotos? Na verdade, não podemos compreender, está muito além dos limites do nosso pequeno entendimento. Isso que é fascinante do bhakti-yoga, tudo o que um devoto faz está na linha de satisfazer ao centro divino, ao mais querido Senhor Krishna e tudo o que Sri Krishna faz é satisfazer a joia de Seu amor, Sua mais querida. Por isso oramos para servir à divindade feminina, enquanto no mundo material as pessoas brigam para serem o controlador masculino de tudo. A natureza do mundo espiritual é o oposto: todos se subjugam ao Controlador Supremo.

            Assim, cantamos:

“Óh, a mais querida do encanto infinito! Teu serviço anseia este pecador, Só de Krishna , de Teu amado Krishna, Podes dar-me Seu amor. Rainha de Vrindavana, tanto Te ama Rama, Tua graça venho a implorar, Por tanto amar-te, Ele não te nega nada, Tua é minha alma pela eternidade.”

            Isto quer dizer, orar pela entrega completa ao casal divino, se situando no lado feminino como um assistente. Na linguagem do bhakti-yoga isto se chama: meditação sobre a posição constitucional da alma. Em outras palavras, trata-se de se lembrar que temos um corpo eterno que não deixará de existir quando este corpo material seja comido pelos vermes, e tal corpo eterno tem uma função eterna, uma ocupação perene que está baseada no sacrifício em busca do amor mais elevado.
            Devemos ver a divindade em todos os seres, pois Krishna disse no Bhagavad Gita: “Quem Me vê em todos os lugares e vê tudo em Mim, Eu nunca Me separo dele e ele nunca está perdido para Mim.” Krishna está conectado com cada um de nós, porque Krishna nos ama, porque reside em nosso coração. Não é possível estar separado dEle e Ele nunca se separa de nós. Krishna disse: “Eu te amo e quero te dar conhecimento, lembrança, esquecimento, mas a Mim só pode conhecer com o teu amor, com tua rendição, não com desconfiança ou especulação intelectual. Sou acessível somente com as lágrimas sinceras do teu coração.”
            Sri Krishna também é chamado de Rama ou Radha Ramana, que significa “O que quer satisfazer a Radha”, assim, nossa meditação deve ser uma súplica, uma oração à terra sagrada de Vraja; a terra de Vrindavan onde todos cantam “Jay Radhe, jay Radhe” que quer dizer: “todas as glórias à divina companheira do Senhor Supremo.” Srimati Radharani domina o coração de Vraja Mandal. Isto continua sendo difícil de compreender, trata-se de uma história de amor que pode cativar nosso coração cheio se compreender e servir. Sri Radha-Krishna são o modelo do amor divino, são o maior amor que podemos aspirar a conhecer e servir.
            O dever de qualquer pessoa é servir este amor divino, seja você um monge ou chefe de família. Se alguém decide se casar, então o seu dever se transforma em se tornar fiel ao seu par para compreenderem juntos o amor divino e levar aos seus filhos e aos que te rodeiam para essa compreensão. A Consciência de Krishna é o compromisso com o amor ilimitado. Sri Krishna é totalmente místico e possui diversos aspectos confidenciais que vão muito além deste mundo temporal e nas nas quais nos imerge dependendo do nosso grau de rendição. É só o poder da rendição e da entrega incondicional do coração que nos leva ao ponto máximo do amor, até não sentir nenhuma atração pelo mundo material. Krishna disse no Bhagavad Gita que por pensar nEle no momento da morte, nós iremos a Ele.
            Mas, o que acha de no momento da morte estar prestes a chegar ao mundo espiritual e te oferecerem a ser o rei da Terra? Decide voltar outra vez? Devemos estar dispostos a superar todo tipo de tentações que nos afastem do amor divino. Estamos em análise constante para provar nossa determinação e sinceridade no processo da rendição. Quanto vale o amor? Voltaria a comer carne por um milhão de dólares? Claro, se for um aspirante a devoto que anseia servir ao seu mestre espiritual, você responderia “não”, porque a relação que tem com Deus e com Seu devoto está por cima de qualquer outra conquista, prazer ou posição no mundo material, pois de que serve possuir o mundo inteiro se perderá a sua alma? O mundo está cheio de amor, de oportunidades para se render ao amor divino, mas se não se determinar em sacrifício para isso, as influências externas virão te testar e começará a ansiedade, a tristeza, a frustração, a desilusão, a intoxicação, a fraude, a traição e assim ficará doente ao não poder apreciar o amor verdadeiro.
            A vida no mundo material é uma universidade dirigida por Maya Devi, onde as provas à sinceridade estão à ordem do dia, onde a cobiça faz com que as pessoas anseiem por realizações materiais que não têm nenhuma relação com o verdadeiro amor, pelo contrário, os devotos consagrados lutam para não se identificarem com o temporal e não se apegam a nada mais do que seu serviço aos pés de seu mestre espiritual, se mantendo sempre satisfeitos e dispostos a servir.
            Talvez tudo isso lhes soe muito utópico, ou parecerá que sou um mentiroso fazendo propaganda à vida de renunciante; devo admitir que esta vida não é fácil, que é uma provca contínua. Sem dúvidas é uma realidade e a mim a tem. Há muitos devotos e devotas, no passado e no presente, que se dedicam por completo ao serviço a Deus; que não recebem nada mais que o próprio benefício de seus sacrifícios e, além disso, são felizes e todos que se encontram com eles se tornam felizes.
            Assim, os seguidores de Srila Prabhupada e de seu movimento de sankirtan-yoga têm as portas aberas para se tornarem verdadeiros servos da humanidade onde quem não pode viver como monge também tem todas as oportunidades para se consagrar cheio de seu dever familiar e fazer serviço devocional. Tudo o que o aspirante sincero busque, poderá encontrar nos ashrams de Srila Prabhupada à serviço da humanidade. Ele nos convidou a sermos parte desta escola e formou em toda parte ao redor do mundo, inclusive em sua própria casa.
            Se buscar a luz, comece acendendo a luz do seu coração e a leve a sua casa, ao seu trabalho, a todos os lugares que for. Leve a prasada do Senhor a todos, pois a comida santificada por Deus tem a potência de despertar o amor no coração pela fato de estar saturada da energia da mais profunda oferenda em meditação; a prasada é um alimento que cura o coração aflito e que tem que tomar com agradecimento e entregar com compaixão.
            Agradeço por compartilhar os ensinamentos de Srila Prabhupada mais um dia, obrigado por me permitirem falar sobre o amor mais importante que recebi e que tenho tentado apresentar da melhor forma que posso, mesmo que seja só um extrato do amor divino que está preenchido de muitos mais detalhes.
            Com todo o meu afeto.

            Seu sempre bem-querente,
            Swami B. A. Paramadvaiti.

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