A família espiritual
Santiago, Chile, 20/05
“Estamos tentando seguir com esta
família que às vezes é pesada para carregar, mas também a mais linda que se
pode imaginar. A família não é puro néctar, qualquer coisa pode acontecer,
surpresas que não são necessariamente a máxima alegria, mas no amor, tristeza
ou alegria são bons, para o que ama, tudo o que acontece é perfeito.”
Queridos
devotos.
Temos
a fortuna de estar diante de Asraya Vigraha, que é Srimati Radharani, ela é o
maior presente que temos neste mundo. Talvez o que possa parecer mais raro é
que o próprio Senhor Krishna se refugia em Asraya Vigraha.
Isto é algo inédito. Como este belo Senhor do amor eterno,
Bhagavan Sri Krishna, se refugia em sua energia interna amorosa e ao mesmo
tempo sua energia abre as portas para abrigar todas as entidades vivas que
tanto necessitam dela.
Formamos
uma bela família, porque se estamos convidados é porque todos somos uma
família. Não te convidam para fazer um negócio, para te tirar algo, te convidam
para que seja parte desta família eterna. Entrando na profundidade da fé do
vaishnava: No quê você acredita? Realmente ora a Deus? Aonde quer chegar com
sua vida cotidiana, com seu afeto, com suas expectativas? Por onde anda? Aonde
quer chegar? Todos estamos em viagem, mas onde queremos chegar? Sejamos
concretos, está um pouco difícil de ser tão concreto quando se viaja um destino
eterno. Goloka Vrindavan está cheio de mistérios. Claro, o livro de Krishna
está cheio de mistérios, e Krishna revela muitos destes mistérios em uma forma
muito interessante e muito bonita. Manifesta-se que é a terra do amor, de
Vaikunta sua coroa. Ali, o supremo desfrutador e o controlado estão com a
pessoa que é dona dEle. No amor divino se mostra que Radharani é a figura
principal. Ela é a máxima personalidade do refúgio e ela expande seu refúgio.
Guru Tattva também é Asraya Tattva, é o Tattva nosso...
Estamos
todos estudando para no tornarmos dignos para oferecer refúgio aos demais. Isso
é o mais maravilhoso, o que te faz sentir que é uma família espiritual, não é
uma transação de venda, de comodidade, não é um lugar de diversões, é
compromisso. Veja até que ponto se expande. Em uma família nós não dizemos
“obrigado”, “obrigado” é considerado uma palavra semi-abusiva, é algo como
“obrigado, até logo”. Ao dizer “obrigado”, já te paguei e estou livre de
encargos. Então diz “obrigado, mamãe” e ela responde “não há de quê”. A mãe não
faz serviço ao filho para receber agradecimento, acidentalmente se fala assim,
mas não pensamos muito. Na cultura védica não são apreciadas, porque o
compromisso é total em
família. Se eu sou seu, eu sou seu para sempre, não por um
mês. E logo diz “tenho que ir e não volto mais”, isso é o mundo material.
Hoje
é a estrela, a suposta pessoa da vida da outra e amanhã você é um dos ex...
expirado, expulso. Não é exatamente algo de família, pai e mãe não podem ser
ex. Se existe ex-sannyasi, também não deveria. Ex amor não, senão não foi amor.
Não diminuam nem relativizem a Asraya. Em outras palavras, você está no curso
de se tornar-se uma pessoa digna e capaz de oferecer refúgio permanente aos
demais, a única coisa que eu sei é que me iniciei com meu mestre espiritual,
recebi por sua graça a ordem de monge, o Santo Nome de Krishna e desde então
este Guru me tem com ele, ele não se liberou de mim em quarenta anos e eu sinto
que ele está feliz. Mas também está o filho pródigo, que é mais importante que
o outro.
Consciência
de Krishna é a entrada máxima nesta vida mesmo, sem isto não será completa sua
existência. Se nós nos juntarmos aqui como se fosse um clube, apertamos as
mãos, trocamos informações interessantes, mas seguimos nosso destino, sem se
importar com o outro não é Consciência de Krishna, é um treinamento para nos
tornarmos parte daquele compromisso da família espiritual eterna que transcende
o corpo material. Isso é muito raro. Menos mau que algo pode transcendê-lo,
porque este corpo, esta queridíssima carnezinha que você carrega, pode perder a
qualquer momento, é vulnerável. Hoje mesmo podemos perder, talvez não se perca
tudo, quem sabe o que se perde. Severo é isto. Se você inverter toda sua vida e
esperança no corpo material, logo não terá nada. Inverte todo seu dinheiro em
uma conta bancária que não existe, depositou tudo e a conta não é sua, baseado
na vaidade corporal, e logo está morto e quer que te devolvam o dinheiro que
investiu. Só te levarão uma jarra de cinzas. Nem isto leva, outro tem que
carregar. Se falo de uma família eterna, eu falo porque é o único refúgio que a
alma tem e para alguns ateus não existe, tudo se acaba na tumba, e por isso vou
desfrutar dos últimos dias que me resta. Isso é meio precário, não se pode
confiar, se algo falhar, eles se despedem de tudo. Eu vaidoso, desfrutador, o
resto nem sei o que fazem. Cada um olha por si mesmo, quem é o único no mundo
que não é assim? A mãe. É a única que nos tem atados inseparavelmente. Minha
mãezinha, mas não tenho tempo para minha mãe. O amor que buscamos supera o amor
da mãe por seu filho, se sua identificação com o Senhor não supera o amor de
uma mãe, ainda não está ao nível da evolução que precisa, te domina o desejo carnal.
É o assunto do apego e por isso o devoto se apega de duas maneiras: Primeiro a
Asraya Tattva, ao Guru e a Radharani; deve ser um re-apego para que seja tão
profundo e impactante que nos tire o mundo material. Se eu não estiver muito
apegado ao Guru e ao Senhor Supremo, não serei exitoso na vida espiritual.
O
êxtase máximo é o máximo horror, que é a perda da intimidade. Eu não tenho vida
privada, sou de vocês, não sei se isso vocês realizam. Ainda tenho a minha mãe.
Para ter boa vida espiritual tem que estar apegado sobretudo ao Guru, estas são
questões de coração acompanhadas de sacrifício verdadeiro, senão o amor é uma
piada. Eu renunciei a vida material, não quero saber de nada que não seja de
Krishna, “isto é teu”, “não, obrigado, é de Krishna”. Não tenho contas
privadas, propriedades escritas no meu nome. Posso ser testa-de-ferro de
Krishna, mas deixo claro que é de Krishna.
As
leis do mundo são diferentes, antes eram de palavra as questões, agora, tudo se
rege pelas leis. Os mapuches passavam sua herança de palavra, pois assim foi a
história. Os antepassados não tinham conceito de fazer funcionar a
supervivência da espécie como agora, eram mais inteligentes, agora temos
cartórios e problemas. Um Guru é o que você deve se tornar para não esquecer. Todos
somos Siksa Guru em diversas proporções, quem escuta bem e logo fala já é um
Guru. O que sai da chave deve ser a água pura da fonte, não deve ser adulterada,
não deve sair água marrom, você quer água pura da fonte, você quer tattva,
Krishna, a verdade. Ele te ensina algo e agora é seu dever reparti-lo.
Repartimos com todo mundo, o serviço e seus resultados. Tem que repartir e você
está no curso e por estar no curso, o Guru te pertence e está pendente contigo
até o ponto que seja possível. O Guru já não é o Guru, é Krishna, quando está
no seu coração como paramatma, que é o Guru original. O Guru nunca te abandona.
Meu Diksa Guru não se foi, se manifesta em outros vaishnavas e hoje está no meu
coração. Sempre é assim a união com o Guru tattva, Krishna não se desprende de
ti, não te solta, não te abandona, não diz: “Vou a Goloka, você fique aqui
sozinho”, paramatma nunca se despede de uma alma, Krishna é O mais tolerante de
todos, para ser o Paramatma de muitas pessoas que têm feito mal a este mundo; é
bem aguentador, é a forma em que se manifesta. Ravana também tinha paramatma.
Nos lilas (passatempos) do Senhor se manifestam demônios que vão contra a
espiritualidade e a família espiritual.
O
que deixa sua vida espiritual firme é que você se apegue às pessoas que estejam
cuidando, de forma que você as pertença. Deve se apegar às pessoas que estão
cuidando. Não tem direito por ti mesmo. Eu quero que vocês me ocupem em serviço
de Krishna desde a manhã até a noite, e quando me separar deste corpo, espero
que os vaishnavas me recebam do outro lado para me ocupar, sem lapso de ócio e
separação dos devotos. Isto é filosofia da família espiritual, vai muito além
do que vemos aqui no quarto, a família espiritual potencialmente inclui a
todos. Se você sabe que tão intensamente os Gurus incluem a ti, não terá
vontade de se afastar. Uma família espiritual não se afasta de nós, e nós não
nos afastamos da família. Vou servir assim até que vejamos o que Deus quer
conosco, é um compromisso de fidelidade, elevadíssima consciência, compromisso.
Eu sou teu. Tem que ser assim. Se você quiser algo menor que isto, então não
está cumprindo com o convite. O convite de Prabhupada é de volta para casa, de
volta para Deus. Não nos perdemos neste mundo material, e agora vamos à
montanha, vamos ao rio, para estar abraçados com a Mãe-natureza para promover
esta relação desta família para aprender a ser um representante. Eu vou na
segunda-feira e não tenho garantia de voltar ao Chile. Não me levem a mal,
estou tomando notas de realidades, que tenho um corpo material e em qualquer
momento posso deixá-lo.
Faz
20 anos que o digo e ainda me mantenho por aqui. É provável que volte por aqui
compartilhando muitas coisas bonitas, me encantaria voltar, porque eu os quero
muito, lhes pertenço. Então, alguém me diz “fique”, mas também pertenço aos
devotos de Florianópolis, Buenos Aires, Córdoba... Eu tenho que dizer “Quero
obedecer e ficar, mas não posso porque onde manda capitão, não manda
marinheiro”, e o discípulo é o dono do Guru, mas não manda porque tem um
mandato de uma linha superior. É como um compromisso do pai com muitos filhos,
um filho não pode dizer ao pai “Você é somente o meu pai e deixa de lado aos
demais”, o filho o discípulo pode sentir que ele é o discípulo mais querido de
seu Guru, se comporta-se bem não é difícil sentir, mas na relatividade da
divindade existem certas contradições, o paradoxo do amor é que quero a cada um
mais que qualquer outra coisa. A cada um quero como único e exclusivo. Na Índia
quando tem uma conferência e se reúnem discípulos de muitos Gurus, todos filhos
de Bhaktisidanta Sarasvati Takur e todos dizem que foi o mais querido discípulo
de seu Guru, parece ilógico no sistema ocidental, mas não é assim na vida
espiritual, há uma potência no amor espiritual que supera tudo isso. Paramatma
nos ama de uma forma intensa, igual a nós, meu Paramatma me agüenta e por me
agüentar tanto é que me quer especial, porque senão, para que está ali. É um
milagre, “Eu dou o conhecimento, dou o esquecimento, dou a lembrança e estou
todo para ti”, estou no coração de todos os seres vinculados ao meu mundo.
Graças a Krishna nos presenteou mais um belo dia com sol.
Agora
queria dizer uma coisa: meu tempo está muito medido. Vou falar com todos os
devotos, um a um. O vôo dos pássaros formam uma flecha, os da frente vão
protegendo, o que vai na ponta é o mais difícil, por isso vão trocando os
primeiros da ponta. Se eu tivesse um desejo, desejaria ter um tapete que voa.
Os aviões me têm aqui e os aeroportos ali. Um tapete extensível, que subam
quantas pessoas quanto eu quero que subam, parece que nesta vida não vou ter.
Um grande harinam sankirtan em
grupo... Há uma mística ali. Na vida espiritual, o contato
pessoal individual é algo muito importante. Este amor que queremos nos dar é o
amor que tem que dar às pessoas que Deus manda no seu caminho. Funciona assim:
Asraya vigraha. Tem que dar seu amor às pessoas que mais o necessita, com todo
compromisso do caso e animá-los lhes entregando o mesmo tesouro que recebeu.
Asraya tattva é Radharani expandido com seus devotos. Krishna é quem atende a
cada um dos devotos.
A
forma de subjugar o Senhor Supremo é se refugiar em Asraya tattva, em Radharani. Há uma
contínua competência entre Krishna e Seu devoto para ver quem serve a quem. Isso
é amor. Não é como no mundo material onde eu quero explorar e calcular, quero
que se atem ao compromisso real. Se quiserem estar vinculados, este é o único
que conheço e vale a pena. Essa é a única coisa que eu lhes ofereço, não lhes
ofereço eterna saúde, poderes místicos, passaportes, tampouco uma bela esposa
ou um bom esposo, às vezes acontece, tem de monte. A cada um cai quando o toca,
como é o karma. Mas eu posso lhes oferecer a família que Prabhupada ofereceu a
mim, e se eu tivesse encontrado outra coisa, já teria ido e lhes teria avisado
para que fôssemos todos. A melhor coisa que encontrei foi Prabhupada e todo o
seu amor.
Estamos
tentando seguir com esta família que às vezes é pesada para carregar, mas
também a mais linda que se pode imaginar. A família não é puro néctar, qualquer
coisa pode acontecer, surpresas que não são necessariamente a máxima alegria,
mas no amor, tristeza ou alegria são bons, para o que ama, tudo o que acontece
é perfeito. Sabe em que está e segue na corrente. Uma coisa vem com a outra, é
melhor aceitar como é, porque parece que é o desejo do mundo material que não
somos capazes de mudar. Para alguns será assim, se Deus planejou assim. Então
aceite as coisas como são, mesmo que às vezes não gostemos.
Muito
obrigado por me escutarem e acompanharem, e me permitam servi-los. Assim,
jamais andará sozinho ou desamparado. Sou um escravo de vocês, uma mostra para
se tornar escravo do escravo é apreciar o que o escravo está fazendo. Krishna é
o servo do servo do servo, é místico, mas se mostra nas realidades. A árvore se
busca pelos frutos.
Jay
Srila Prabhupada!
Seu
sempre bem-querente,
Swami B. A. Paramadvaiti.
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