domingo, 20 de maio de 2012


A família espiritual

Santiago, Chile, 20/05


“Estamos tentando seguir com esta família que às vezes é pesada para carregar, mas também a mais linda que se pode imaginar. A família não é puro néctar, qualquer coisa pode acontecer, surpresas que não são necessariamente a máxima alegria, mas no amor, tristeza ou alegria são bons, para o que ama, tudo o que acontece é perfeito.”


Queridos devotos.
Temos a fortuna de estar diante de Asraya Vigraha, que é Srimati Radharani, ela é o maior presente que temos neste mundo. Talvez o que possa parecer mais raro é que o próprio Senhor Krishna se refugia em Asraya Vigraha. Isto é algo inédito. Como este belo Senhor do amor eterno, Bhagavan Sri Krishna, se refugia em sua energia interna amorosa e ao mesmo tempo sua energia abre as portas para abrigar todas as entidades vivas que tanto necessitam dela.
Formamos uma bela família, porque se estamos convidados é porque todos somos uma família. Não te convidam para fazer um negócio, para te tirar algo, te convidam para que seja parte desta família eterna. Entrando na profundidade da fé do vaishnava: No quê você acredita? Realmente ora a Deus? Aonde quer chegar com sua vida cotidiana, com seu afeto, com suas expectativas? Por onde anda? Aonde quer chegar? Todos estamos em viagem, mas onde queremos chegar? Sejamos concretos, está um pouco difícil de ser tão concreto quando se viaja um destino eterno. Goloka Vrindavan está cheio de mistérios. Claro, o livro de Krishna está cheio de mistérios, e Krishna revela muitos destes mistérios em uma forma muito interessante e muito bonita. Manifesta-se que é a terra do amor, de Vaikunta sua coroa. Ali, o supremo desfrutador e o controlado estão com a pessoa que é dona dEle. No amor divino se mostra que Radharani é a figura principal. Ela é a máxima personalidade do refúgio e ela expande seu refúgio. Guru Tattva também é Asraya Tattva, é o Tattva nosso...
Estamos todos estudando para no tornarmos dignos para oferecer refúgio aos demais. Isso é o mais maravilhoso, o que te faz sentir que é uma família espiritual, não é uma transação de venda, de comodidade, não é um lugar de diversões, é compromisso. Veja até que ponto se expande. Em uma família nós não dizemos “obrigado”, “obrigado” é considerado uma palavra semi-abusiva, é algo como “obrigado, até logo”. Ao dizer “obrigado”, já te paguei e estou livre de encargos. Então diz “obrigado, mamãe” e ela responde “não há de quê”. A mãe não faz serviço ao filho para receber agradecimento, acidentalmente se fala assim, mas não pensamos muito. Na cultura védica não são apreciadas, porque o compromisso é total em família. Se eu sou seu, eu sou seu para sempre, não por um mês. E logo diz “tenho que ir e não volto mais”, isso é o mundo material.
Hoje é a estrela, a suposta pessoa da vida da outra e amanhã você é um dos ex... expirado, expulso. Não é exatamente algo de família, pai e mãe não podem ser ex. Se existe ex-sannyasi, também não deveria. Ex amor não, senão não foi amor. Não diminuam nem relativizem a Asraya. Em outras palavras, você está no curso de se tornar-se uma pessoa digna e capaz de oferecer refúgio permanente aos demais, a única coisa que eu sei é que me iniciei com meu mestre espiritual, recebi por sua graça a ordem de monge, o Santo Nome de Krishna e desde então este Guru me tem com ele, ele não se liberou de mim em quarenta anos e eu sinto que ele está feliz. Mas também está o filho pródigo, que é mais importante que o outro.
Consciência de Krishna é a entrada máxima nesta vida mesmo, sem isto não será completa sua existência. Se nós nos juntarmos aqui como se fosse um clube, apertamos as mãos, trocamos informações interessantes, mas seguimos nosso destino, sem se importar com o outro não é Consciência de Krishna, é um treinamento para nos tornarmos parte daquele compromisso da família espiritual eterna que transcende o corpo material. Isso é muito raro. Menos mau que algo pode transcendê-lo, porque este corpo, esta queridíssima carnezinha que você carrega, pode perder a qualquer momento, é vulnerável. Hoje mesmo podemos perder, talvez não se perca tudo, quem sabe o que se perde. Severo é isto. Se você inverter toda sua vida e esperança no corpo material, logo não terá nada. Inverte todo seu dinheiro em uma conta bancária que não existe, depositou tudo e a conta não é sua, baseado na vaidade corporal, e logo está morto e quer que te devolvam o dinheiro que investiu. Só te levarão uma jarra de cinzas. Nem isto leva, outro tem que carregar. Se falo de uma família eterna, eu falo porque é o único refúgio que a alma tem e para alguns ateus não existe, tudo se acaba na tumba, e por isso vou desfrutar dos últimos dias que me resta. Isso é meio precário, não se pode confiar, se algo falhar, eles se despedem de tudo. Eu vaidoso, desfrutador, o resto nem sei o que fazem. Cada um olha por si mesmo, quem é o único no mundo que não é assim? A mãe. É a única que nos tem atados inseparavelmente. Minha mãezinha, mas não tenho tempo para minha mãe. O amor que buscamos supera o amor da mãe por seu filho, se sua identificação com o Senhor não supera o amor de uma mãe, ainda não está ao nível da evolução que precisa, te domina o desejo carnal. É o assunto do apego e por isso o devoto se apega de duas maneiras: Primeiro a Asraya Tattva, ao Guru e a Radharani; deve ser um re-apego para que seja tão profundo e impactante que nos tire o mundo material. Se eu não estiver muito apegado ao Guru e ao Senhor Supremo, não serei exitoso na vida espiritual.
O êxtase máximo é o máximo horror, que é a perda da intimidade. Eu não tenho vida privada, sou de vocês, não sei se isso vocês realizam. Ainda tenho a minha mãe. Para ter boa vida espiritual tem que estar apegado sobretudo ao Guru, estas são questões de coração acompanhadas de sacrifício verdadeiro, senão o amor é uma piada. Eu renunciei a vida material, não quero saber de nada que não seja de Krishna, “isto é teu”, “não, obrigado, é de Krishna”. Não tenho contas privadas, propriedades escritas no meu nome. Posso ser testa-de-ferro de Krishna, mas deixo claro que é de Krishna.
As leis do mundo são diferentes, antes eram de palavra as questões, agora, tudo se rege pelas leis. Os mapuches passavam sua herança de palavra, pois assim foi a história. Os antepassados não tinham conceito de fazer funcionar a supervivência da espécie como agora, eram mais inteligentes, agora temos cartórios e problemas. Um Guru é o que você deve se tornar para não esquecer. Todos somos Siksa Guru em diversas proporções, quem escuta bem e logo fala já é um Guru. O que sai da chave deve ser a água pura da fonte, não deve ser adulterada, não deve sair água marrom, você quer água pura da fonte, você quer tattva, Krishna, a verdade. Ele te ensina algo e agora é seu dever reparti-lo. Repartimos com todo mundo, o serviço e seus resultados. Tem que repartir e você está no curso e por estar no curso, o Guru te pertence e está pendente contigo até o ponto que seja possível. O Guru já não é o Guru, é Krishna, quando está no seu coração como paramatma, que é o Guru original. O Guru nunca te abandona. Meu Diksa Guru não se foi, se manifesta em outros vaishnavas e hoje está no meu coração. Sempre é assim a união com o Guru tattva, Krishna não se desprende de ti, não te solta, não te abandona, não diz: “Vou a Goloka, você fique aqui sozinho”, paramatma nunca se despede de uma alma, Krishna é O mais tolerante de todos, para ser o Paramatma de muitas pessoas que têm feito mal a este mundo; é bem aguentador, é a forma em que se manifesta. Ravana também tinha paramatma. Nos lilas (passatempos) do Senhor se manifestam demônios que vão contra a espiritualidade e a família espiritual.
O que deixa sua vida espiritual firme é que você se apegue às pessoas que estejam cuidando, de forma que você as pertença. Deve se apegar às pessoas que estão cuidando. Não tem direito por ti mesmo. Eu quero que vocês me ocupem em serviço de Krishna desde a manhã até a noite, e quando me separar deste corpo, espero que os vaishnavas me recebam do outro lado para me ocupar, sem lapso de ócio e separação dos devotos. Isto é filosofia da família espiritual, vai muito além do que vemos aqui no quarto, a família espiritual potencialmente inclui a todos. Se você sabe que tão intensamente os Gurus incluem a ti, não terá vontade de se afastar. Uma família espiritual não se afasta de nós, e nós não nos afastamos da família. Vou servir assim até que vejamos o que Deus quer conosco, é um compromisso de fidelidade, elevadíssima consciência, compromisso. Eu sou teu. Tem que ser assim. Se você quiser algo menor que isto, então não está cumprindo com o convite. O convite de Prabhupada é de volta para casa, de volta para Deus. Não nos perdemos neste mundo material, e agora vamos à montanha, vamos ao rio, para estar abraçados com a Mãe-natureza para promover esta relação desta família para aprender a ser um representante. Eu vou na segunda-feira e não tenho garantia de voltar ao Chile. Não me levem a mal, estou tomando notas de realidades, que tenho um corpo material e em qualquer momento posso deixá-lo.
Faz 20 anos que o digo e ainda me mantenho por aqui. É provável que volte por aqui compartilhando muitas coisas bonitas, me encantaria voltar, porque eu os quero muito, lhes pertenço. Então, alguém me diz “fique”, mas também pertenço aos devotos de Florianópolis, Buenos Aires, Córdoba... Eu tenho que dizer “Quero obedecer e ficar, mas não posso porque onde manda capitão, não manda marinheiro”, e o discípulo é o dono do Guru, mas não manda porque tem um mandato de uma linha superior. É como um compromisso do pai com muitos filhos, um filho não pode dizer ao pai “Você é somente o meu pai e deixa de lado aos demais”, o filho o discípulo pode sentir que ele é o discípulo mais querido de seu Guru, se comporta-se bem não é difícil sentir, mas na relatividade da divindade existem certas contradições, o paradoxo do amor é que quero a cada um mais que qualquer outra coisa. A cada um quero como único e exclusivo. Na Índia quando tem uma conferência e se reúnem discípulos de muitos Gurus, todos filhos de Bhaktisidanta Sarasvati Takur e todos dizem que foi o mais querido discípulo de seu Guru, parece ilógico no sistema ocidental, mas não é assim na vida espiritual, há uma potência no amor espiritual que supera tudo isso. Paramatma nos ama de uma forma intensa, igual a nós, meu Paramatma me agüenta e por me agüentar tanto é que me quer especial, porque senão, para que está ali. É um milagre, “Eu dou o conhecimento, dou o esquecimento, dou a lembrança e estou todo para ti”, estou no coração de todos os seres vinculados ao meu mundo. Graças a Krishna nos presenteou mais um belo dia com sol.
Agora queria dizer uma coisa: meu tempo está muito medido. Vou falar com todos os devotos, um a um. O vôo dos pássaros formam uma flecha, os da frente vão protegendo, o que vai na ponta é o mais difícil, por isso vão trocando os primeiros da ponta. Se eu tivesse um desejo, desejaria ter um tapete que voa. Os aviões me têm aqui e os aeroportos ali. Um tapete extensível, que subam quantas pessoas quanto eu quero que subam, parece que nesta vida não vou ter. Um grande harinam sankirtan em grupo... Há uma mística ali. Na vida espiritual, o contato pessoal individual é algo muito importante. Este amor que queremos nos dar é o amor que tem que dar às pessoas que Deus manda no seu caminho. Funciona assim: Asraya vigraha. Tem que dar seu amor às pessoas que mais o necessita, com todo compromisso do caso e animá-los lhes entregando o mesmo tesouro que recebeu. Asraya tattva é Radharani expandido com seus devotos. Krishna é quem atende a cada um dos devotos.
A forma de subjugar o Senhor Supremo é se refugiar em Asraya tattva, em Radharani. Há uma contínua competência entre Krishna e Seu devoto para ver quem serve a quem. Isso é amor. Não é como no mundo material onde eu quero explorar e calcular, quero que se atem ao compromisso real. Se quiserem estar vinculados, este é o único que conheço e vale a pena. Essa é a única coisa que eu lhes ofereço, não lhes ofereço eterna saúde, poderes místicos, passaportes, tampouco uma bela esposa ou um bom esposo, às vezes acontece, tem de monte. A cada um cai quando o toca, como é o karma. Mas eu posso lhes oferecer a família que Prabhupada ofereceu a mim, e se eu tivesse encontrado outra coisa, já teria ido e lhes teria avisado para que fôssemos todos. A melhor coisa que encontrei foi Prabhupada e todo o seu amor.
Estamos tentando seguir com esta família que às vezes é pesada para carregar, mas também a mais linda que se pode imaginar. A família não é puro néctar, qualquer coisa pode acontecer, surpresas que não são necessariamente a máxima alegria, mas no amor, tristeza ou alegria são bons, para o que ama, tudo o que acontece é perfeito. Sabe em que está e segue na corrente. Uma coisa vem com a outra, é melhor aceitar como é, porque parece que é o desejo do mundo material que não somos capazes de mudar. Para alguns será assim, se Deus planejou assim. Então aceite as coisas como são, mesmo que às vezes não gostemos.
Muito obrigado por me escutarem e acompanharem, e me permitam servi-los. Assim, jamais andará sozinho ou desamparado. Sou um escravo de vocês, uma mostra para se tornar escravo do escravo é apreciar o que o escravo está fazendo. Krishna é o servo do servo do servo, é místico, mas se mostra nas realidades. A árvore se busca pelos frutos.
Jay Srila Prabhupada!

Seu sempre bem-querente,
Swami B. A. Paramadvaiti.

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