Erguer-se sempre – De Eka Chakra 18/09

Queridos devotos. Saudações de Eka Chakra, no Chile.

Os devotos são seres extraordinários, por isso aos sahas os queremos com todos seus defeitos, porque são de natureza devocional. Claro, não deve interpretar mal isso, não estou tentando dar uma pequena justificativa às negligências, porque a luta de cada um é interna. Cada um luta para se superar e chegar ao Mangal Aratik todos os dias. Esta já é uma superação yóguica grandiosa, mas é muito pessoal.

Quando os devotos têm tropeços em seus votos, na realidade são momentos de reflexão que os empurra a se refugiar mais na prática espiritual, então não é mau totalmente. O que um devoto valoriza na vida não é muito valorizado no mundo material, por exemplo, seguir os princípios.

A abstinência, o controle dos sentidos. No mundo material é raro que alguém não aceite um copo de cerveja. E enquanto uma pessoa busca sair deste mundo, se esforçando ao máximo, tem um momento de fraqueza e cai, por exemplo, se toma uma cerveja visitando à família, etc. É uma queda desde uma ótica ortodoxa, dentro da plataforma de seguir votos, mas não o torna um mal feitor para os demais. Só é uma mostra de que somos fracos ante o material. Mas um erro assim não nos faz menos potentes espiritualmente, melhor, pode aprender com ele e progredir sempre, quando não é algo que se repete intencionalmente fora do controle de tua sinceridade.

O que quero enfatizar neste contexto é que um devoto, mesmo que cometa erros, é uma boa pessoa para os demais. Na sua vida pessoal ainda tem que polir coisas, mas em seu trabalho com os demais, é um bem-querente. Um devoto não faz nada de mal para os animais, para a Mãe-terra. E ele se esforça e toma responsabilidades no serviço a seu mestre espiritual, isso é uma mostra de sua luta interna. Cometer erros e ir ao mundo material, seguir cometendo mais erros não é inteligente e o ajuda pouco. Pelo contrario, um devoto assim está em uma posição superior, lutando para corrigir seus erros em um kirtan, em uma aula, isso é uma luta positiva. Um devoto, mesmo caído, não vive sua vida amargado de suas quedas ou criticando as quedas dos outros. Antes de conhecer Krishna você ja teve muitas quedas, agora talvez tenha que tocar o chão mais outra vez, mais ainda quando esteja orgulhoso,  mas se levante e siga lutando. Esse é o conselho da filosofia. Tampouco devemos esquecer-nos do banho do elefante. Não podemos ficar nesta rotina, como o ditado que “quem ora e peca empata”.

O que nossos mestres espirituais propõem é diferente, se chama misericórdia, se chama oportunidades. Por isso até a iniciação é um segundo nascimento. Uma vez um senhor muito engraçado me deu uma instrução:

Eu estava quase para comprar um paraíso terreno, bonito, grande em um sítio próximo à cidade, mas me faltava Lakshmi. Então fomos aos hindus e conseguimos uma quantidade de dinheiro e quem vendia o terreno eram umas monjas, quando chegamos para fazer os papéis, saiu um coronel. Depois de ter pagado, não sabia o que fazer.

Quando estava voltando ao templo apareceu um paraíso verdadeiro e de louco parei e perguntei quem era o dono, o senhor Emoc, um rico que comprou todas as selvas do Panamá e que vivia lá acima em um zoológico, assim, disse pra mim mesmo “vou falar com ele”. Parti de doti e uma mocinha saiu para me receber. Entramos, em uma cadeira de rodas estava um velhinho rodeado de jovens moças no meio do zoológico, me disse em inglês “o que quer?” e o tratei como se fosse um devoto maior e lhe contei minha história triste e lhe disse que estava mais complicado com a terra que não consegui comprar das monjas, depois que lhe contei a história, ele disse que aprendeu com seu pai algo e compartilhou comigo “o que faz quando cai do cavalo? Fica no chão gritando ou se levanta e segue no cavalo? O que vai fazer?” me perguntou e logo disse “gosto de tua atitude”, em seguida “te vendo a 100 mil dólares, me dê o que tem e o restante me paga em 10 anos” e acrescentou “venha amanhã”. Não pude crer o que escutei, o senhor Emoc queria ajudar e vender o paraíso que tinha. O resto da história não é importante.

A gente tem que se levantar haja o que houver.

Sobre a história, foram feitos os papéis, na segunda-feira quando chegou o momento de autorizar, o senhor Emoc estava no hospital. Estava muito doente e tomava água das deidades, escutava Srila Prabhupada e fez um serviço aos devotos. Algo bom veio de Krishna por seu desejo de servir e assim partiu do mundo. Então a filha não reconheceu o contrato que fez seu pai. Ela não aceitou “pequem de volta seu dinheiro”, nos disse. Ai fiquei derrotado no chão, pela segunda vez. Depois compramos uma casa para Krishna, que não era nada como os dois paraísos, mas assim é a vida, tem que erguer-se haja o que houver... temos que continuar na direção de nossos ideais.

Há momentos que parece que já acredita que não pode continuar, mas não é assim, a vida é capítulo após capítulo, até a eternidade. Com quem quer se encontrar depois da morte? Com Hitler, Stalin ou Pinóquio? Imaginem, não temos outra opção, temos que seguir adiante até a perfeição, tem que seguir o caminho, aconteça o que acontecer, sem braços nem mãos tem que seguir como cobra, mas tem que seguir adiante, todo movimento tem seu destino.

Um devoto é aquele que sempre vai te dar a mão, nunca vai negá-la. Ele sempre vai te ajudar para seguir adiante, para se levantar, para se animar a continuar neste tremendo caminho. Na vida espiritual tem que encontrar aquele que te faz eterno, aceite isto meu amigo, você já é eterno, não há nada o que fazer com isso, mas a eternidade que te falta é uma eternidade bela, onde desenvolve teu potencial infinito, de servir feliz e experimentar crescimento infinito. Não é suficiente o simples fato de ser eterno.

Desenvolver Eka Chakra eternamente, queremos seguir sendo uma granja ecológica. Não construir muitas casas, melhor abrirmos muitas casas em muitos lugares espalhados por mais lugares, não queremos ser outro Santiago cheio de vaishnavas com metrô e tudo. Não. Melhor ter sítios onde encontramos tudo em uma loja, não há problema, na realidade nunca há problema, isso diz somente nossa mente, nossa demência.

Na realidade nossa vida é uma vida de serviço aos nossos ideais e nossos ideais são a busca da pureza, a descontaminação e o descondicionamento. Agora, lamentavelmente, somos almas contaminadas, mas o processo do bhakti yoga, gradualmente, descondiciona nossa vida. Se hoje está menos tamasico, rajasico, que falar desconsideradamente, é graças aos devotos. Os devotos por natureza não são desconsiderados, são amigos dos demais, bem-querente dos devotos, dos mapuches, dos residentes. Por isso é importante viver com os devotos.

A natureza de um devoto é ser um bem-querente, não quer nada de nada ou quer serviço na forma proporcional, correta, quer tudo para todos, até um desejo material Krishna o satisfaria, ele é casado com a Deusa da Fortuna, você crê que Krishna tem problema em lhe dar um Ipod?  Uma terrinha?

Li uma notícia que há pouco tempo encontraram uma parede que parecia poder ter sido uma porta antes, escondida, ali encontraram o tesouro maior que nunca haviam encontrado na história, 12 bilhões em barras, escondido na Índia pelos ingleses, há 300 anos atrás, sem sequer colocar preço à antiguidade, alucinante o tesouro, guardado embaixo do templo, deidades do Senhor Visnu, esse problema não temos, nem sequer usamos joias verdadeiras para a deidade, ou temos problemas de roubo, porque assim era antes, para quê queremos joias se não são para Krishna. Krishna tem uma opulência ilimitada, galáxias, novas, etc. não é nada sua casinha de 5 paus, se alguém tem desejos materiais Krishna os satisfaz, na eternidade, quantas coisinhas vai ter?

Os devotos vêm a Krishna de todos os lados, ficam felizes, e fazem coisas bonitas enquanto podem, olham o famoso Chakra e o mar. Embora antes tivesse pensado em só fazer uma casa de barro enfrente ao mar, pois vocês sabem, construir de frente ao mar com barro... mas Krishna nos inspirou e agora temos uma beleza única frente ao mar, imagine. Temos fotos que por si só desaparecem, mas temos uma boa memória. Eu pensei muito e decidimos que sim, porque é algo para glorificar a Krishna. Assim é a vida, se o mar leva, assim é, como teu corpo, o importante é fazer algo bonito para Krishna, o realmente importante é quando os vaishnavas fazem algo, isso é algo que inclui continuidade depois que nos vamos, ou voltamos para continuar com o serviço.

Vrinda Devi faz coisas mais bonitas que o dia anterior. O que admiro neste vestido da deidade é o amor que puseram ao fazê-lo, o que distingue tudo é o amor, a grinalda, o altar, a canção, é o amor do devoto que quer cantar uma linda canção para Krishna.

Filhos idiotizados pela televisão não é uma piada, a televisão idiotiza seguramente. Está comprovado milhares de vezes que a TV acaba com a criatividade, deixando as pessoas numa situação bem catastrófica, ainda bem que Krishna nos tem muitas tarefas lindas para fazer, as tarefas de consciência de Krishna são lindas e queremos que haja 50, 500, 5.000 sannyasis dedicando-se ao bem de todo o mundo.

Quando estive na Serra Nevada com os arhuacos foi uma visita muito iluminada. Pessoas bonitas com ambiente e moda dos últimos 4 ou 5 mil anos, quem sabe quanto, estão alí amistosos, sem armas, não por não ter dinheiro mas porque não querem, é uma eleição, vivem ali preocupados por sua Mãe-terra, muito bonito. Um devoto vai lá para enriquecer-se internamente e para fazer seus irmãos mais felizes do que são. O devoto nem sequer vive tão focado no terrestre, ele vive o que quer fazer sempre, olhe nossa filosofia, nós somos tão loucos que queremos seguir nos associando na outra vida e não é impossível, pois se queremos, vamos todos a Goloka Vrindavan. Se cada um segue seu caminho de amor, então nos veremos. Cada um é um indivíduo precioso em si, porque o Senhor te fez precioso...

Tudo o que temos, o que alcançamos, é graças a Krishna, Ele tem o crédito de tudo. Ninguém se fez por si mesmo, pensar assim é loucura, nem pelo que tem feito. O desenho de Krishna é muito interessante, tem tudo perfeito, não temos que nos queixar, todos se veem meio bonitos, ao menos as mulheres, os homens, um tema a parte... Cada um é um forjador de sua própria fortuna, cada um vê o karma que carrega, mas é um panorama temporal o que vemos aqui. Por que quero me encontrar com vocês vida após vida? Porque desde o início que os conheci me caíram bem, e me cai mal a ideia de nunca mais voltar a vê-los. Por exemplo:

Não voltar a ver a Atreya, isso é um presente mais de Krishna. Tem que ser agradecido porque o outro existe. Isso é amor verdadeiro, quando não pode viver sem devotos e quando quer viver com Krishna, o único lugar onde podemos estar juntos. É um bom desejo e quando é forte, Krishna o satisfaz, porque Krishna também tem esse desejo de nos ver. Por isso se expande como Paramatma em cada um. Pobre Krishna, como aguenta estar no coração de Hitler, tanto amor tem Krishna que nos acompanha até o momento da degradação, em última instância estamos no cenário do grande teatro, às vezes do teatro da criatividade, o teatro do amor, a luxúria. Há distintos cenários. Por exemplo:

O amor da mãe por seu filho é eterno, o dos vaishnavas é eterno, porque não é contaminado, é um amor incondicional. O amor de Krishna pelas Gopis é eterno, ninguém vai separá-los. Krishna é apegado as suas relações eternas. O amor é um critério e esse amor é tão grande que se pode celebrar em uma comunidade entre pessoas que se queiram. Somos muito felizes entre pessoas que se queiram, quando há êxitos, de cada coisa, de cada pessoa, de cada projeto, melhor dizendo se vocês não estão relativamente felizes eu estaria preocupado, por isso temos que consolar o outro, secar as lágrimas de todos. Assim é a vida, não é manteiga pura todo dia, inundações, vejam o Krishna Lila, bosques incendiados, asnos demônios ao céu, as árvores, bicos abertos de pássaros endemoninhados. Sri Krishna arruma tudo, Ele por Seus devotos faz qualquer coisa.

O que é o Srimad Bhagavatam? História de amor, de amor intenso de como Krishna é feliz com a mãe Yasoda. Se o tiram dali, teria problemas, há travessuras de amor. As Gopis fazem qualquer coisa para fazer Krishna feliz. Mãe Yasoda vem lamentar. Melhor dizendo, Vrindavan está muito apaixonado por Krishna. Os macacos, os pavões reais, as abelhas zumbem as glórias de Krishna, os loros, as árvores, o bambu, etc. Há comentários sobre o bambu, Como é possível Krishna beijar tanto o bambu se é um pau e nada mais? Isso estão falando. A terra de Vrindavan se estremece, desmaia de êxtase, igual o ar, as nuvens todas têm consciência, a consciência do amor. Que falar do amor das Gopis, Krishna fica completamente inquietado ao falar do amor de Radharani. Ela melhor diz: Este Krishna me dá dor de cabeça.

Vrindavan é Eka Chakra e está por todos os lados onde há devotos. Os devotos sempre querem viver em Vrindavan. Estão apegados e isso para mim é a máxima satisfação, quando vou para lá, estou com todos também, porque o amor não é limitado, não é restringido e não é no mínimo obstruído por algo material, nada pode parar nosso amor. Maya sempre propõe coisinhas, mas não vamos permitir e vamos ver como todo o mundo chega a Krishna, sem que passe com Pariksit prabhu que demora, assim é o coração dos devotos e não concebo diferente, porque diferente seria indiferente. Seria impessoal. Na luz do brahman, já não nos daríamos conta quem está e quem não está e isso seria um pouco chato. Krishna fez algo tão pessoal, porque o único que alguém faz é saudar pessoas em Eka Chakra. Assim porque de coração, o critério do coração é que nosso bem-querente, Sri Krishna nunca vai nos abandonar. Entre nós tão pouco nos vamos abandonar, esse é o dever que Krishna dá a Seus devotos, e por isso saímos a sankirtan, a buscar irmãos perdidos que andam por ai, com uma garrafa de vinho na mão, esquecendo-se do amor divino que os espera.

Assim termino minha mensagem para o Chat de hoje.

Muitas palavras e desejos lindos. Estes conceitos são elevados e sou agradecido com Krishna que fez tudo tão pessoal. Ele é um jovem joalheiro que faz de tudo uma maravilha, cada alma é uma maravilha. Krishna não será alguém tão pouco comum para criar só luz, cada ser é uma maravilha de Krishna e temos que descobrir dentro de cada um de nós para nosso bem e Ele de todos os demais. Devemos mostrar nossa maravilha e não nossos rancores, egos, que é o que geralmente andamos buscando, porque o temos a flor da pele, mas nossa maior maravilha é começar a nos redimir a Krishna sem importar o impuro que sejamos. Apesar de que somos muito desclassificados, nos esforçamos por termos a Krishna. Aí está a inspiração correta, todos temos este maravilhoso dever. Não somente sannyasis ou mestres espirituais, eles estão para inpirar. Essa é a vida, o mundo espiritual Vrindavan se chega quando somos rendidos a Krishna. Na medida em que nos rendemos, nos tornamos mais próximos a Krishna. Pela graça de Krishna e de nossos Gurus, sempre podemos fazer um serviço e oferecer algo belo a todos. Temos essa oportunidade e é uma grande maravilha. Hari bol.

Srila Prabhupada ki Jay!

Seu sempre bem-querente

Swami B. A. Paramadvaiti