domingo, 7 de junho de 2015

Sandya Vandana, o Sadhana



“Apenas temos de ser humildes e aceitar que o sadhana é nossa conexão. O sadhana é como a tomada de um aparelho quando precisa de eletricidade, se não houver eletricidade imediata, a luz vai embora.”



Hare Krishna, meus queridos devotos! O tema da conferência é a importância do sadhana.
Sadhana, sandya é o amanhecer por um novo dia, é muito interessante, porque é um novo recapacitar da minha existência neste mundo. Por isso, no sandya os brahmanas cantam Sandya Vandana, dão a boas-vindas ao novo dia e oferecem reverências a todas as forças universais.
O Sandya Vandana é parte do sadhana e a perfeição começa com o Mangal Arati. Se tiver sai Istadev ou sua Deidade em casa, não começará o dia vendo notícia nem tomando seu café, ou simplesmente correndo ao trabalho... O dia tem que começar com Sandya Vandana. Adoração ao novo dia, adoração aos devotos e aos familiares que nos acompanham:
vanca kalpa tarubyas ca
kripa sindhubhya eva ca
patita nam pavanebyo
vaisnavebyo namo namah
                                               
Muito importante! A toda pessoa que convive conosco, começamos lhe reverenciando. E ao mestre espiritual, quem põe a pauta de convivência e princípios do dharma, também sempre é reverenciado. “Vande ham, sri-guroh” é plural, porque não é apenas um mestre espiritual, são todos os siksa gurus, os que nos mantêm no caminho da devoção.
Oferecemos reverências a todos eles, e faço a todos para que a coisa funcione, porque mesmo que não sejamos tão hierárquicos como os militares em essência, se não nos motivarmos e não fizermos as coisas como deve, então nos desviamos. E desviar-se tem seu preço, desejando não chega-se ao destino. Por isso, tem que manter-se no caminho mesmo que seja como um atalho, ou de repente se tiver algo bloqueando seu caminho.
Por exemplo, hoje Gopal deu uma super volta em Quito, pois havia uma maratona na cidade e não nos deixariam passar, mas com esforço finalmente conseguimos chegar ao templo. E assim nós planejamos mais um dia de serviço devocional. Somente através da invocação da misericórdia, pois sem a misericórdia não tem nada. Então, o Sandya Vandana é Guru, Vaishnavas, Tulasi. Por isso adoramos Tulasi nos templos.
Na Índia todos têm Tulasi em casa e antes de fazer qualquer coisa diz-se:

vrindayai tulasi-devyai
priyayai keshavasya ca
krishna-bhakti-prade devi
satyavatyai namo namah

“Planta sagrada, planta bendita, que venha purificar o mundo, me permita ter amor por Radha-Krishna e Radha-Govinda.”

Isso é o que suplico, não há outra coisa que me interesse. Então assim a adoração a Tulasi é parte do sadhana, logo podem vir uns bhajans.
Os bhajans do Mangal Arati são o nosso caso, pois cada templo canta canções distintas: “samsara-davanala-lila-loka, tranaya karunya-ghanaghanatvam”. Pedimos misericórdia ao mestre espiritual para compreender o significado de Radha Krishna Lila, do Senhor Caitanya, da adoração à Deidade, da importância de cantar o Santo Nome, ou melhor, nas oito partes do Guru Astaka está descrito como pode-se conseguir a misericórdia, e logo vem a canção de Vrindavan:
yasomati-nandana braja-baro-nagara gokula-ranjana kana
gopi-parana-dhana madana-manohara kaliya-damana-vidhana
Esta canção nos leva diretamente a Vrindavan, ao Senhor Krishna, Suas travessuras, as gopis, os Santos Nomes e ao Yamuna: “Yamuna tata-cara, gopi-basana-hara...”
Todo o Radha Madhava Lila está impregnado aí, alguns cantam kaki-kukura para se lembrarem de Sri Caitanya que vem para nos salvar do cão de Kali. Essas coisas não são absolutas, dependem de cada templo, e então se enquadra o sadhana.
Por exemplo, depois que adoramos o Senhor Caitanya vem o Prema Dvani. O Prema Dvani é muito importante, “jaya om visnu-pada paramahamsa parivrajakacarya ashtottara-sata sri srimad srila bhaktivedanta svami prabhupada ki jay” e continua, “vrindavan dham ki jay, mathura dham ki jay, jagannath puri dham ki jay, ganga meya ki jay, yamuna meya ki jay”, fazendo assim uma oferenda a tudo que é sagrado, bonito, para recordar. Sem eles não somos nada, estamos perdidos, então dessa maneira segue o sadhana.
Logo vem o Senhor Nrsimhadev. O Senhor Nrsimhadev é o protetor dos devotos, por isso todos os dias Lhe cantamos uma canção. Srila Prabhupada nos ensinou isso pessoalmente, ele queria proteger seu movimento da loucura.
Há muita loucura para se proteger, então por isso vem “namas te narasimhaya, prahladahlada-dayine...”. Com o Nrsimha Pranam ficamos bem com o sadhana. Mas agora vem o Siksastaka, lembrar das oito estâncias de Sri Caitanya Mahaprabhu:

ceto-darpana-marjanam
bhava-maha-davagni-nirvapanam
shreya-kairava-candrika
vidya-vadhu-jivanam
...
Depois do Siksastaka vem japa, o Maha Mantra Hare Krishna. O cantar da japa individualmente é parte do sadhana da manhã. E você sabe, dependendo de quanto tempo tenha canta 4, 8, 12, 16 rondas e começam os serviços. Alguém tem que ir à cozinha, tem que fazer isso e aquilo, mas vem a parte mais importante, já cantamos japa, agora:

jaya radha-madhava kunja-vihari
gopi-jana-vallabha giri-vara-dhari
jasoda-nandana braja-jana-ranjana
jamuna-tira-vana-cari

Essa canção é uma janela que se abre ao mundo espiritual, é diretamente abrir e ver Vrindavan. Jaya Radha Madhava é algo muito belo e importante. Assim você vê ao mundo espiritual, é uma grande janela. E os que aproveitam esta janela, esta imagem de Vrindavan onde pode-se ver Radha Krishna e Seus devotos, começam a se sentir em casa, começam a se sentir refugiados. Esta é a eterna Vrindavan, e a eterna Vrindavan é uma coisa maravilhosa.
É inacreditável como foi manifestada a eterna Vrindavan neste mundo e como nos convida, é algo inédito. Um pequeno exemplo meio bobo é como se o presidente dos Estados Unidos viesse ao Equador e desse uma vista dos Estados Unidos a todos equatorianos e um quarto na Casa Blanca para viver com ele e ajudá-lo, com comida, teto e tudo para o resto da vida. Não daria para imaginar, porque a Casa Blanca é muito pequena, não cabem todos, e além disso, não cabem todos os corações. Além deles não terem esse coração.
Mas quando Krishna vem a este mundo, Ele diz: “Agora você vem à Minha casa, a conviver comigo, você pode ficar aqui fazendo serviço, vou te abrigar. Sua alma Me pertence, é constitucionalmente parte do Meu mundo. Vocês estão desviados deste mundo material, embarcando a cada momento e eu quero que parem com esta loucura e quero que agora comecem a colocar serviço no coração. E por isso Eu os convido a cantarem Meus Santos Nomes, pois assim estarão em contato Comigo a todo o tempo. E mais, enquanto cantarem Hare Krishna estarão nos meus santuários que estabeleci no mundo, ou seja, vocês estarão no mundo espiritual.”
Ou melhor, Krishna não apenas promete que depois de morrer chegará ao mundo espiritual, Ele faz que os devotos tragam o mundo espiritual aqui à Terra e que abram as portas, abram espaços. As pessoas não apreciam o que é um templo, as pessoas não imaginam que estas sejam sucursais do mundo espiritual.
Vocês sabem, a embaixada norte-americana é território americano, lá não entra a polícia equatoriana, similarmente, o templo de Krishna é uma parte de Goloka Vrindavan, já pertence à Goloka Vrindavan. Se pensar “não, aqui é o Equador, sem mais”, estará equivocado, por isso os templos e as inversões que fazemos nos templos são inversões no mundo espiritual.
Em outras palavras, se quiser criar um templo, um templo no mundo espiritual, estará criando o mundo espiritual aqui na Terra, e se dedicar-se a isso por toda vida, será transferido deste mundo diretamente ao mundo de Krishna, porque já tem vista, já tem preparo, já fez sadhana e o sadhana diário é aquilo que fazemos sempre para nos mantermos vigentes.
Quando deixa de fazer sadhana, de cantar japa, quando deixa de trabalhar para a causa de Krishna, então o sadhana começa a debilitar-se. Quando deixa de associar-se com os devotos, debilita-se mais. Se não trabalhar no dia para produzir algo para Krishna, debilita-se mais. Quando não vai ao Mangal Arati, debilita-se mais. Se não cantar o Gayatri, debilita-se mais. Se não orar ao Senhor Nrsimhadev, debilita-se mais.
Ou seja, o sadhana é o que nos alimenta e fortalece. Assim como todos comem desjejum e depois comem ao meio-dia, assim como alimentamos o corpo na manhã, ao meio-dia e às vezes à noite, também nosso corpo espiritual e determinação espiritual precisam de sua alimentação. Isso se chama Sandya Vandana, o Sadhana.
Esta é nossa alimentação. Agora, se alguns devotos não puderem acompanhar porque foram mandados a fazer um serviço aqui ou ali, quando atua-se sob a ordem do mestre espiritual sempre faz-se sadhana. Nem sequer quando esteja fazendo nada de sadhana porque está em coisas burocráticas ou organizando um programa, quando faz-se serviço ao Guru está ocupado em sadhana em todo sentido. Mas não deve-se negligenciar o sadhana com o pretexto de serviço, “estou servindo ao Guru dormindo um pouco mais para ter mais força.”
A mente produz um monte de desculpas, por isso os bons devotos são os que mantêm um sadhana, são reconhecidos, são os que levantam ao Mangal Arati, praticam, dão aula. Há muitas coisas que um devoto pode fazer para mostrar que é um bom devoto... Ir ao sankirtan com entusiasmo, dar conferências, mas há de praticar também, não apenas falar.
Há muitas formas onde pode-se expressar como um bom devoto, isso é muito bonito. Apenas temos de ser humildes e aceitar que o sadhana é nossa conexão. O sadhana é como a tomada de um aparelho quando precisa de eletricidade, se não houver eletricidade imediata, a luz vai embora.
Agora não tem problema porque há sol lá fora, não precisamos de eletricidade. Mas o que pensa se for tirada a tomada de algo? Tudo o que supostamente funciona sob a energia elétrica já não funciona, mesmo que tenha um lindo aparelho. Existem aparelho caros, mas sem energia não funcionam, não fazem nada.
Então, dessa forma, a tomada é o sadhana da vida espiritual e as pessoas que vivem na casa sem sadhana, sem Mangal Arati, tem que ser ajudadas, estas que não têm a companhia dos sadhus, que é o animador no sadhana.
Vejo vocês muito animados, vejo a cara que me olham, estão absorvendo cada palavra que digo. Sinto-me muito afortunado, sinto-me privilegiado e muito comovido pela atenção que me dão.
Se aqui houvesse uns quatro dormindo, o que eu faria? Eu faria outra coisa. Não há muito tempo para si na vida devocional, mas está tudo bem. Trabalhamos duro, vamos seguir lutando, não vamos jogar a toalha, em associação com os devotos continuaremos.
E se estiver em uma fazenda ou fora da cidade, mais difícil ainda. Tem que ajudar a fazenda, tem que coletar para a fazenda, levar tour à fazenda. Neste mundo há muitas coisas a serem feitas, os devotos têm muito trabalho. Quase não há tempo para o sadhana, mas não se esqueçam, seu trabalho também é sadhana. Se algum devoto estiver doente, tem que atendê-lo, torna-se prioridade. Então, há muito, há uma hierarquia.
Guru seva, Vaishnava seva, são como hierarquias de atenção. Nam seva, cantar Hare Krishna é o mais elevado, mas Guru seva e Vaishnava seva são abençoados no Nam seva.
Nam seva, Dham seva, há muitos. Por isso deve-se ter claro que isso é muito importante. E quando cantar japa e o Guru te chamar, pode dizer: “Gurudeva, estou cantando japa, não posso atendê-lo”. Se cometer uma ofensa ao Santo Nome, o Santo Nome não vai gostar, então, temos que ver que haja uma sequência natural, uma hierarquia do coração.
Mas o Guru não te chama para dormir, a não ser que esteja muito doente ou muito cansado. O Guru diz: “Você está dormindo a cada momento, não está mais pronunciando nenhum mantra. Vá descansar 10 minutos e depois cante bem”.
Também existe isso, o Guru é muito amplo, é muito flexível, ele adapta-se ao tempo, lugar e circunstância. O Guru não é quadrado e está proibido dizer algo em nome do Guru: “Meu Guru disse que tem que fazer isso e aquilo”. Não, não é assim. Não tem que convencer uma pessoa do que deve-se fazer.
Srila Prabhupada proibia dizerem “Prabhupada said” (Prabhupada disse), ele dizia: “O que eu quiser que você saiba, colocarei por escrito”. Como na justiça, na corte que busca 3 ou 4 lados da mesma história e assim chegam a um acordo. Isso é justiça, quando não há corrupção.
Hoje em dia há muita corrupção, por isso não acreditam muito na justiça. Mas a vida continua, temos que lutar. Não podemos jogar a toalha, pelo menos temos que fazer justiça entre os devotos, entre a comunidade.
Agradeço muito a todos que fazem sadhana. E com estas palavras me despeço. Um grande abraço a todos de coração.
Srila Prabhupada ki jay!

Seu sempre bem-querente,

Swami B. A. Paramadvaiti.

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