domingo, 2 de dezembro de 2012


Ser agradecidos e aceitar
Vrindavan, Índia



“Separando-se pelas forças da grande mãe natureza como as ondas no mar que se unem e se separam para nunca mais se encontrarem com as outras, as almas no oceano turbulento das ações e reações se encontram, se apegam, se rejeitam e se distanciam.”


            Queridos devotos, recebam meu afeto de Vrindavan.
            Chegou a hora de pensarmos o que devemos fazer com nossa vida, porque esta vida está passando rapidamente, como a água de um rio turbulento que não descansa em nenhum lado, corre e corre até chegar ao mar; a água que flui em nossa vida é a água de nossas emoções e relações. Tantas relações tivemos nessa vida e tantas relações teremos, mas em um momento não poderá levar o melhor amigo, a mais linda mãe, a mais linda esposa, e as crianças não vão ficar. Separando-se pelas forças da grande mãe natureza como as ondas no mar que se unem e se separam para nunca mais se encontrarem com as outras, as almas no oceano turbulento das ações e reações se encontram, se apegam, se rejeitam e se distanciam. Há uma relação que transcende esta dualidade: “Existe algo que permita nos atar a uma realidade eterna e agradável?” Todos fazem esta pergunta mais de uma vez na vida. O que é seguro é o que você não tem, mas não é seguro o que se tem.
            Apesar de você ter uma existência segura, porque está se dando conta de sua existência tanto de dia como à noite, o grande sábio e devoto puro de Krishna, Srila Prabhupada, meu amado, respeitado mestre e Gurudeva, nos explicou com todo o seu carinho que todos nós somos filhos do mesmo pai eterno. Este pai eterno amoroso é o único que pode oferecer à nossa alma uma relação eterna dentro de Sua vontade e dentro de Sua morada. Ele deixou bem claro desde o início que nem sequer o melhor amigo que tenha pode ter quando partir.
Muito atados somos pelas relações de sangue que nos fazem sentir que há uma relação permanente, mas na verdade, o pai de sangue nem sequer é de sangue, porque no espermatozóide não há sangue. Nossa existência e nossa linhagem é uma linhagem de consciências intercaladas, uma com a outra pelo karma, não por sangue nem por espermatozóides que são apenas veículos, como sua alimentação. Ao comer uma batata ou uma couve-flor, não se torna uma batata nem uma couve-flor. Há muitos veículos neste mundo: veículos para receber imagens, veículos para perceber o tato, veículos do olhar de uma pessoa à outra, mas em todos os casos são veículos materiais, mas o que verdadeiramente nos conecta com as causas de todas as causas é que somos parte da causa, e estamos unidos a esta consciência pela consciência desta consciência.
Poderíamos dizer que nascemos pela graça de nossos pais, porque decidiram ter um filho e assim nascemos nós como receptores dessa vontade, e logo eles se sacrificaram para que pudéssemos ter fraldas, meias, sapatos, vestes, comida e muitas coisas físicas, mas o que me vinculou com meus pais foi seu desejo de ter um filho que me fez à imagem e semelhança deles. Por isso, quando se diz que estamos feitos à imagem e semelhança de Deus, é muito sensato. Não podemos gerar nem leões nem girafas, mas para o Criador produzir elefantes, leões e girafas não é difícil, Ele pode fazer o que Lhe der vontade, e Lhe deu vontade de que os filhos nascessem à imagem e semelhança de seus pais. Nossa relação com Deus e com nossos pais é que somos unidades individuais de consciência, e estas estão muito afim de se unirem, se unirem com o Senhor que não nos deixará abandonados nunca, porque a experiência do abandono e da separação, sim, dói muito... Dói e dói muito, mas sendo almas condicionadas, temos algo grande que não nos dá alívio na separação: que somos muito exigentes, pedimos mais dos demais do que queremos dar. Quando temos uma relação, sempre queremos tirar do outro de qualquer forma para se aproveitar da outra pessoa, por isso quando há uma separação forçada, as pessoas dizem que foi errada, preguiçosa e mentirosa, e se foi é porque tinha que ir. Conformamo-nos muito rápido com a partida de alguém, mesmo que em alguns momentos haja lágrimas de crocodilo ou de pena pelo morto.
            O metal fecha os olhos com inveja e cobiça, e nos faz esquecer do que não está, e que ele não gostaria que brigássemos. Somos maus companheiros porque não demos Krishna, o que ele merece, como o esposo que não dá à esposa o que ela merece, e a esposa que não dá ao marido o que ele merece, talvez façam uma troca, fazem um acordo na troca, mas o que merece o seu esposo, ou sua esposa, é ter um grande devoto dedicado, compassivo e que não peça o que não mereça. Como diz o Isopanisad, o Senhor Supremo está nos dando e nos recomenda a não ter o que não necessitamos, mas não é que pedimos mais do que necessitamos, mas muitas vezes pegamos sem pedir permissão.
Quando queremos dividir 100 entre 200 é difícil, pois só há um pouco para cada um, e um pouco não funciona e temos que aceitar. Tem que aceitar que cada unidade funcional é uma unidade abençoada, como o ditado: “Neste mundo há o suficiente para a necessidade de todos, mas não para sua cobiça.” Então, você vê que os ricos não se cansam da riqueza, sempre querem aumentar, e pior, quanto mais têm, mais medo eles têm de perder. O que não se tem não é assim, o que tem guardado para 100 dias de comida, quando chegam 40 dias e tem que trabalhar para repor, fica em ansiedade, então, os que mais têm, mais ansiedade têm. Há um ditado muito sábio que sempre me lembro quando penso em Srila Bhakti Raksaka Sridhara Deva Goswami: “Preocupe-se com o seu próprio negócio e se renda.” Minha rendição é me entregar à sua companhia, querido vaishnava, que o teu bhajan cuide de mim, harikhata e prasada que nos  mantêm apegados à grata companhia dos devotos, especialmente aqui em Yamuna Kuñja, onde o meu coração se estremece pela graciosidade de estar em frente a Yamuna Devi, onde muitos mendigos foram inspiradores do planeta inteiro sem se importarem com a mínima opulência deste mundo e dos prazeres ilusórios. Um deles cantava: “Sou pecador, luxurioso e não há em mim nada bom. Gopinath, que a presença de Seus pés de lótus descenda a esta alma. Talvez Você queira me dar maço se vir algo que não goste, assim este poderá ser meu último nascimento. Não quero por condições ao Meu Senhor, o que decida, eu aceitarei.”
O mundo material é muito forte. Encantaria-me encontrar com Seus pés de lótus para satisfazê-Lo inteiramente em uma relação eterna, porque sinto que o mundo material é uma grande fraude, não a muitos níveis, porque há almas muito fiéis, mas a fraude é exagerada, por isso eu decido que não quero nada mais por aqui e é algo que presenteio ao meu Senhor para que Ele disponha.
Todos estes anos em Consciência de Krishna têm sido uma grande misericórdia, mesmo os momentos de sofrimento, todos eles foram momentos de ensinamento importantes e bonitos, e de agora em diante lhes peço, queridos vaishnavas, que me permitam continuar cantando e lendo o Srimad Bhagavatam em suas companhias, levando o movimento de sakirtan, assim como vocês fazem, como estes grandes acaryas têm feito serviço para a salvação do mundo. Quem sabe quantas vezes passaram os santos por esta porta, pelo menos Sripad Damodar Maharaj e Srimati Pisima Mataji passaram por aqui. Por isso, fizemos suas Pushpa Samadhis aqui, porque eu os conhecia e sabia que eram muito queridos por Srimati Radharani. Tudo isso não é mais que misericórdia para aprendermos a ser agradecidos.
Muito obrigado, queridos sankirtaneiros, por nos acompanhar nesta bela viagem. Nos próximos dias faremos cerimônias de despedida para aqueles que partiram deste mundo durante este ano. Aqueles que desejam que seu ser querido participe desta cerimônia, mandem a foto ao email de Vrinda Kuñja com o nome e o detalhe da relação que teve com você – vrindakunja@gmail.com.

Muito afeto daqui com vocês em maratona de trabalho para participar desta maratona de dezembro da Índia.

Jay Srila Prabhupada!

Seu sempre bem-querente,
Swami B. A. Paramavaiti.

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