domingo, 19 de janeiro de 2014

Formando comunidade



Formando comunidade


“A espiritualidade é uma grande verdade própria da lei, é o que nos une por direito, por necessidade. Espiritualidade representa beleza e não tortura ou inquisição, por isso me sinto abençoado por buscar a solução ancestral, porque uma comunidade sem lei vai acabar em nada, onde vão brigar até por um alfinete, como é a mentalidade da supremacia que tira todos como um exército para deixar fluir seu poder podre.”




            Queridos devotos, hoje é o último dia na Colômbia. Dias importantes da Missão. Hoje Ati Quigua viajou à Costa Rica para se encontrar com a doutora Vandana Shiva, este encontro será histórico, o reencontro de duas culturas ancestrais.
            Ati Quigua busca proteger os laços entre Serra Nevada e Índia. Eu me sinto muito feliz com tudo isto, pois estes encontros são muito auspiciosos para todos. Nossa campanha principal é recuperar e proteger os valores ancestrais, oferecer uma educação baseada em valores espirituais que incluam o respeito a todas as culturas. Ati Quigua viaja como representante de Ikwashendwna levando uma mensagem de paz e amor universal. Ikwashendwna ou o Pacto Mundial Consciente são a união dos povos por um mundo melhor, por respeito aos valores. Krishna está manifestando tudo isto por Sua misericórdia e nós somos instrumentos deste grande plano.
            O que fazemos para aliviar o sofrimento do mundo? Primeiramente saber: Por que sofremos? Do que sofremos? A Oida Terapia nos dá a resposta a isso de uma forma científica. Agora que sabemos o porquê, o que fazemos? Como aplicamos o aprendizado? Aprendemos muitas coisas neste mundo, mas têm aplicação prática na vida? A maioria das informações que aprendemos está orientada no final das contas para nos manter economicamente.
            Não tivemos educação espiritual que complementasse a outra educação e desse sentido à nossa vida. Os sábios da Índia nos deram muita informação espiritual, a escola mística da Índia é rica em sabedoria, por exemplo, o Srimad Bhagavatam tem 18.000 versos orientados para despertarem a espiritualidade na sociedade, informação que serve inclusive a um ateu. Um ateu pode dizer que não acredita em Deus, mas acredita em valores, mas quem define ou estabelece os valores? De onde surgem ou como se ensinam? Como se educa com valores? Às vezes me encontro com estes ateus e pergunto se eles não adoram a mãe cósmica, a criadora da vida, e eles dizem “claro, como não”, então eu digo que eles são muito religiosos.
            Quero fazer um reconhecimento aos Mamos, avós e mestres da Serra, são um exemplo de cultura que têm lutado e seguem lutando para protegerem seus valores e isso se comprova no carinho e na generosidade que têm para com os demais, mesmo eles tendo sido abusados pelo mau uso da palavra religião. Eu me sinto um humilde aprendiz deles, eu era um dos hippies da Europa que buscava viver em comunidade, fizemos muitas tentativas de formar pequenas comunidades das que fiz parte, mas eu as vi se formarem e se acabarem, isso acontecia com estas comunidades, enquanto as comunidades arhuacas têm milhares de anos e ainda se querem, fazem pagamentos, estão aqui com a gente compartilhando.
            Estes dias pude participar de uma reunião de eco aldeias em Varsana, mas foi muito mais que eco aldeias, foi a necessidade de encontrar uma comunidade e ter uma relação sustentável com a terra, com outros irmãos, com as florestas, com os rios, com as árvores, com os animais e com tudo o que nos rodeia. Assim eu vi, foi um encontro de coração. O que nos une é a mãe cósmica, a fonte de toda biodiversidade que faz da nossa vida feliz, e também para enfrentar diferentes situações e conflitos.
A conclusão deste encontro é que não vemos inimigos mesmo que conheçamos pessoas que façam coisas horríveis, nós devemos buscar detê-las, mas não temos inimigos senão que irmãos um pouco complexos que devemos despertar e incluir nos bons. E aos bons, em suas variedades, mostrar que os matadouros têm relação com a violência, pois sofremos em grupo ou com algo que nos une. Eu pergunto se vocês sentem internamente que todos em grupo devemos receber as reações da ação de uma pessoa ou de um grupo específico? Precisamos tecer uma rede que vá muito além do sectarismo, identificar elementos que nos unam, como a proteção aos animais, à mãe natureza, aos valores e disto temos muito em comum.
Da visão védica, a meta da vida é a liberação. Nós podemos dizer que temos o ticket comprado para nos liberar, mas o perdemos se não ajudarmos aos demais para que consigam seu ticket. Todos devemos sair deste mundo, devemos ter uma comunidade curadora onde devem caber todos e a salvação é o estilo da vida que levamos. As eco aldeias têm este papel, serem centros de educação desta cultura curadora. Em uma eco aldeia há dois conceitos muito bonitos: O líder não se sente líder, se sente um formador, educador de líderes; e não há conceito de propriedade privada mesmo que tenha propriedade privada. Eles sentem que o que têm é emprestado e eles se sentem como guardiões. Para eles é muito claro que não somos donos senão que guardiões da mãe terra.
A espiritualidade é uma grande verdade própria da lei, é o que nos une por direito, por necessidade. Espiritualidade representa beleza e não tortura ou inquisição, por isso me sinto abençoado por buscar a solução ancestral, porque uma comunidade sem lei vai acabar em nada, onde vão brigar até por um alfinete, como é a mentalidade da supremacia que tira todos como um exército para deixar fluir seu poder podre. O líder de uma comunidade espiritual inspira a outros sob as regras que todos aceitamos, porque aceitamos que são boas para você, para formar, gerar, sustentar seu desenvolvimento pessoal e grupal, isso é um grande sacrifício.
Um ideal se solidifica materialmente quando há um sacrifício desinteressado de alguém disposto a contribuir e receber com amor a todos. Sabemos que há justiça no universo e se alguém começa a dar problemas, por lei universal se sabe que essa pessoa receberá o que merece, mas essa lei não está escrita, é algo que temos no coração.
Culto é cultura, é pagamento. Formando comunidade, encontrando valores pelo os quais eu quero me sacrificar, encontrando líderes que me inspiram porque eles são os mais sacrificados. Pode ter o desejo de ter uma eco aldeia, então deve dar sua terra à comunidade e entrar de acordo baseado no que dizem os avós para colocarem normas e regulações, porque eles se sacrificam e têm o bem comum de forma geral, esse é o culto pelo bem-estar de todos.
No movimento do meio ambiente há uma grande negligência por parte dos seres humanos para com os animais, até as Nações Unidas mencionaram a importância de deixar de comer carne, mas grandes organizações animalistas como a Green Peace não tem isso em primeiro lugar. Muitas organizações animalistas recomendam cuidar dos animais de estimação, mas não dizem como na Índia que o sacrifício animal é o que mais se deve evitar, e se precisar fazer, então faça um pagamento onde se mata o animal com suas próprias mãos e diga que ele terá o direito de fazer o mesmo com você na próxima vida. Espiritualidade é a defesa da Mãe Terra, de amar aos demais e de seguir um líder pelo qual sou capaz de me sacrificar sem fanatismo, sem pensar que ele é a única coisa que vale a pena.
Eu queria transmitir esta experiência de uma comunidade que tem e promove valores como o agradecimento, a pureza e a compaixão, e que sua base são as reuniões dos membros onde se discute como proteger juntos os ideais. Nestas comunidades há autoridades, mas não há temor. Para mim, espiritualidade são os ideais de uma comunidade, principalmente aos que têm uma relação próxima ou onde a força maior esteja baseada na convicção comum que todos temos. Falo das eco aldeias, pois tivemos a reunião mais importante de eco aldeias aqui, mas o conceito inclui a todas comunidades espirituais. Você tem uma comunidade espiritual? Então é parte desta rede.
Uma família espiritual já é uma comunidade. Se abrir a porta aos seus irmãos para falar dos valores universais, já terá uma comunidade. O futuro depende das comunidades que trabalham unidas em seus ideais, por isso estive feliz nesta reunião de compartilhar com tantos líderes suas experiências e seu existir por um mundo melhor.
Obrigado Srila Prabhupada, obrigado por esse presente e sem dúvida este presente é para vocês também.
Srila Prabhupada ki jay!

Seu sempre bem-querente,
Swami B. A. Paramadvaiti.

Nenhum comentário:

Postar um comentário